quinta-feira, 4 de outubro de 2007

Espécie de peça de teatro em 5 voos – 2.º voo

A meio do dia, já meio cansado, decide que tem fome. Levanta-se, veste o casaco e sai do escritório. Chama o elevador. Não espera quase nada. O voo começa mas é subitamente interrompido no 5.º andar. Ele pede um desejo e as portas do elevador abrem-se.
(As cortinas também.)
Entra a tal colega do 5.º andar com a sua gabardina simpática e ele agradece ao céu e à terra por isso. Ela diz descomprometida: "Cá nos encontramos!" e ele, por estar com fome, parte imediatamente para a ofensiva: "Coisa que não aconteceria, se tivesse ido pelas escadas!". Ela ri-se com vontade e ele faz-lhe a vontade: ri-se por ela se rir. O elevador pára no 2.º.
Ele e ela entreolham-se surpreendidos: acaba de entrar o tal senhor mal-disposto e eles mastigam silenciosos uma gargalhada. O elevador chega ao rés-do-chão e o colega carrancudo sai de cena. Ela deseja um "Bom apetite!" e ele dá-lhe passagem. Nessa altura, por a fome ser tudo, arrisca tudo. Diz: "Olhe, quando voltar não vá pelas escadas!". Ela lança a cabeça para trás soltando uma risada sonora e ele grita por dentro: "Quem não arrisca, não petisca!". As portas do elevador fecham-se.
(As cortinas também.)
Fim do 2.º voo.