sexta-feira, 31 de dezembro de 2021

2021


Li finalmente O Ano do Pensamento Mágico, de Joan Didion. Começa assim: “A vida muda num instante. Sentamo-nos para jantar e a vida, como a conhecemos, acaba.”


A Joan Didion morreu na véspera da véspera de Natal. O João Paulo Cotrim morreu três dias depois. Não conheci a Joan nem o João, mas senti um pasmo cardíaco quando soube da morte de ambos.


Há uns meses apareceu um caracol numa alface cá em casa. Era um caracol muito pequenino. Fui mostrá-lo às crianças. O mais velho matou-o sem querer.


Reli a Mrs Dalloway e reli também As Horas. Aproveitei para rever também o filme. Fui então um pouco mais longe, e já agora, li o guião de cinema. Foi um exercício intrincado porque uma mulher real é personagem num livro onde uma outra personagem lê o livro que a mulher real escreveu. 


As Horas começam com a famosa carta que Virginia Woolf escreveu ao marido no dia em que se suicidou. A carta acaba assim: “Não acredito que duas pessoas pudessem ter sido mais felizes do que nós fomos”.


Não foi um ano lá muito feliz. Chorei algumas vezes. Não me ri muito. Mas por acaso no outro dia tive um ataque de riso que me tirou o fôlego.


Aconteceram coisas estranhas.

A invasão do Capitólio. Aquele navio encalhado algures no Egito. O voo da Ryan Air desviado para a Bielorrússia. Aquela louca que me seguiu até casa. As cheias na Alemanha e na Bélgica. A quantidade de roupa que já não me serve. A quantidade de pessoas que se foi embora de Bruxelas. Grandes amigos do peito. Os vizinhos do lado. O menino da creche. Um amigo do mais velho. 


Puxa. Parem lá de zarpar.


Perdi muito cabelo. Perdi umas luvas pretas. Fui multada por excesso de velocidade. Aprendi a letra de algumas canções tradicionais. A minha favorita é aquela assim: “Indo eu, indo eu, a caminho de Viseu”.


Demos muita coisa das crianças. Uma banheira, um carrinho, dois berços, muita roupa. Passamos férias em Portugal. Passamos duas noites no hospital.


Nevou em fevereiro. Nevou em abril. Nevou em novembro. Nevou em dezembro. Ainda não tenho um bom calçado para a neve.


Nasceu a Lua. A Salomé. A Sara.


Cortei um dedo a abrir uma lata de feijão. Cortei um dedo a abrir uma lata de atum. Cortei um dedo a ralar couve-flor. Foi sempre o mesmo dedo.


Senti-me muitas vezes exausta. Senti-me muitas vezes sozinha. 


Ainda assim, tentei fazer o que esperavam de mim. Tomei as vitaminas. Tomei a vacina. Cortei o cabelo. Lavei os dentes. Separei o lixo. Comprei finalmente um desodorizante. Montei a árvore de Natal.


O mais velho pede-me beijinhos. Os mais pequenos dão-me grandes abraços. Ainda me acontece olhar para o meu marido e sentir um sobressalto. É do caneco.


Em 2022 espero que o bicho amaine e que nos deixe rir um bocado. Rir mesmo. À toa. Às gargalhadas. Sem medo. Sem pudor. Sem máscara.


Esta vida anda tão séria. Arre.


Bom ano, malta!


quinta-feira, 23 de dezembro de 2021

Estantes, livros, nomes, letras


 20 coisas que me ocorreram enquanto reorganizava uma das estantes de livros lá em casa:

1. Há muitos escritores lusófonos com apelidos a começar por A. Jorge Amado, Lobo Antunes, Germano Almeida, Ricardo Adolfo, Djaimilia Pereira de Almeida, Bruno Vieira Amaral.

2. O mesmo com C e P. Couto, Campilho, Cardoso, Cruz, Carvalho, Pessoa, Peixoto, Portela, Pereira, Pires.

3. Há letras sem ninguém. No J só tenho a Lídia Jorge.

4. Há escritores que tratamos pelo nome próprio e outros que tratamos pelo apelido. Mia, Agustina, Camilo, Sophia. Pessoa, Saramago, Camões, Agualusa.

5. A Agustina deve ter sido sempre a número 1 da turma. Devia ser a primeira a ser chamada ao quadro, a primeira a receber as notas. 

6. Não é fácil vir em primeiro mas também não é fácil vir em último.

7. Por exemplo, o Zink deve estar no finalzinho de muitas estantes de livros. “A instalação do medo” enfiada a um canto, na fila de baixo. Parece uma conspiração do próprio livro.

8. Tenho bastantes livros do Valter Hugo Mãe. Li-os quase todos. 

9. Tenho bastantes livros do Gonçalo M Tavares. Não li a maior parte. 

10. É preciso um certo lirismo para ler Valter Hugo Mãe. 

11. É preciso uma certa dureza para ler Gonçalo M Tavares. 

12. Sou bastante lírica.

13. Sou bastante mole.

14. A maior parte dos livros canónicos sobre escrita foram escritos por homens. James Wood, Ray Bradbury, David Lodge, John Gardner, Murakami, Cortázar, Rilke, Vargas Llosa.

15. Ou as mulheres escritoras não percebem muito do ofício ou não têm por hábito dar palpites. Ou até dão, mas ninguém lhes liga nenhuma.

16. Há livros que procuro muitas vezes nas estantes e nunca encontro.

17. Criei uma secção de livros muito procurados. Agora hei de encontrá-los sempre.

18. Exemplos de livros muito procurados e quase nunca encontrados: As tisanas da Ana Hatherly, a Poética de Aristóteles, os cadernos do Camus, todos os livros que o Sendak ilustrou com textos da Ruth Krauss.

19. Um destes livros da parelha Krauss e Sendak chama-se “Uma cova é para escavar”. Desconfio que o próprio livro ande a escavar covas nas estantes para não ser encontrado.

20. Exemplos de frases muito procuradas neste livro: “Uma cara é para fazer caretas.” “Uma porta é para abrir.” “Um livro é para ser lido.”


quarta-feira, 22 de dezembro de 2021

Prémio Jorge Magalhães de Argumento para Banda Desenhada 2021

Eish! Estou assim uma baita jubilosa!

O “Desvio” recebeu uma menção honrosa na edição de 2021 do Prémio Jorge Magalhães de Argumento para Banda Desenhada, que vem homenagear o trabalho de Jorge Magalhães e apoiar os insensatos que escrevem banda desenhada.

O júri contou com uns pesos bem pesados e o vencedor foi a estrela Filipe Melo.

Obrigada, obrigada, obrigada!

https://www.aladoslivros.com/index.php/premio-jm?fbclid=IwAR109WM24TTR5OXiE-4rcJQA3OWAAL5w7oX64bNwixfngyY8XBS1lo7h8wg

sábado, 27 de novembro de 2021

Vida tão breve


Vou buscá-lo à escola. Não me conta nada do seu dia. Diz: “Correr” e sai disparado à minha frente com a sua mochila do foguetão.

Senta-se num banco a comer uma banana, olha para o chão e não para o céu.

Pega numa folha seca. “Que linda folha!”, diz ele.

Aponta para as folhas que cobrem o chão, diz: “São iguais”. Explica-se melhor: “Esta folha é igual a esta e esta e esta.” 

Apanho no seu olhar um indício de tristeza, a perceção súbita da verdade: a nossa existência breve e bela, “igual a esta e esta e esta.” 

Nascer, crescer, cair, morrer.

Há de sofrer, este meu filho. Tem tendência para a reflexão e para o sentimento. 

Às vezes parece mais pequeno do que é, outras vezes parece maior. Faz hoje 4 anos. 

Ainda usa fralda à noite. Ainda dorme de chucha. Ainda dorme com um macaquinho.

Não é um menino expansivo. Não é irrequieto. Não é ousado. Não é barulhento. 

Pelo contrário. 

Fica muito tempo calado. Fica muito tempo a olhar para um livro. Fica muito tempo a olhar para as pessoas que passam. Quase nunca cai.


“Anda jogar às escondidas”, diz ele aos irmãos. Enfiam-se os três no armário da roupa, fecham as portas. Ficam lá dentro a falar numa língua inventada, fartam-se de rir. Há sempre alguém que acaba a chorar porque leva um tabefe ou um arranhão. Ele explica: “Eu bateu porque eu quero o avião”.

Repito a lengalenga do costume, que não pode bater, que tem de aprender a partilhar, pede desculpa ao mano. 

É muito chato ser mãe. Preferia esconder-me no armário.

De repente desata a falar. Coisas um pouco dispersas. A colega da escola esqueceu-se do casaco, a professora não deixa correr na sala, estava frio no recreio. Interrompe o relato para contar as uvas que estão na tigela. Uma, duas, três, quatro, cinco. Fala-me então de um incêndio com muito fogo e muito barulho. “Então e depois?”, pergunto eu. “Depois vieram os bombeiros e o fogo desapaga.”

Nisto salta para cima de mim, enterra os joelhos na minha barriga. Grita: “Eu gosto da minha mamã”.


Corre nu pela casa antes de entrar no banho. Continua a dizer: “A mamã foge de mim”, mas quer dizer precisamente o contrário. Eu corro, ele foge. Sobe para a “cama dos papás”. Pula todo nu. Grita: “Mamã, estou aqui!” E ri-se histericamente à espera que eu o apanhe.


Depois do banho enrolo-o na toalha. Ele diz: “Mamã, sou um bebé” e esconde o rosto atrás da toalha. Eu então conto a história de que uma cegonha me deixou aquele embrulho muito misterioso à porta de casa. “O que será?”, pergunto eu. “Espero que seja um bebé”. E lá vou desembrulhando o menino devagar. “Aqui estão uns pés muito lindos e grandes. Aqui estão uns joelhos muito fortes!” E assim vamos avançando até ao rosto, que ele próprio destapa, os olhos grandes e atentos. “Mas que lindo bebé!”, digo eu espantada. 

Pego nele ao colo, ainda espantada, e lembro-me sempre desse momento inicial, o meu primeiro filho a aterrar-me nos braços. Nu, encolhido, receoso, indefeso.


O meu bebé humano. Filho mais desejado. Menino de verdade.


Vida tão breve.

Amor tão longo.

sexta-feira, 26 de novembro de 2021

A casa não tem céu


A casa não tem céu

O sino não tem pneus

A porta não está aberta

A mala não é amarela

Isto não é uma grua

O carro não tem unhas

Uma flor não é cebola

O bebé não vai à escola

Um piano não é flauta

Um barco não é comboio

Um leopardo não é tigre

A bandeira não está triste

A mota não tem escada

O sol não tem estrada

A Isa não é menino

Tomate não é pepino

O morango não tem caroço

A janela não tem pescoço

A mamã não tem botão

O buraco não tem chão


(Texto a partir das primeiras frases que o meu filho mais velho começou a dizer aos 2 anos e meio.)

segunda-feira, 22 de novembro de 2021

Não: negação, rejeição, proibição

Quando o mais velho começou a falar, tomei nota das primeiras frases. 

No início só dizia frases afirmativas: Está quente. É um menino. A mamã já vem.

Depois começou a aventurar-se na negação. 

Não, dizia ele. 

Não está. Não tem. Não cabe. Não quer. Não pode. 

Muito se exprime com um não. Negação. Proibição. Rejeição. Ausência. Comparação. Exclusão. 

Assim vamos conhecendo o mundo. Sabendo o que as coisas são e também o que não são. O que está e o que não está. O que tem e o que não tem. Porque isto não pertence àquilo. E isso aí não tem disto. No fundo, uma coisa não é outra coisa.

Ao longo de umas semanas fui compondo um texto com essas frases negativas. E esse texto, em vez de “não”, acabou por dizer “sim”, e foi parar ao Contraconto. É o episódio 37 e chama-se “A casa não tem céu”.

https://www.rtp.pt/play/p8294/e579997/contraconto?fbclid=IwAR0jMrJe_6J-K5qPvB1jC5kZlr0HIZma9-ZBZvhLR2TrVhInMQ1Sz681KCU

(Nota: Assino o texto na qualidade de encarregada de educação porque o autor destas frases ainda não sabe assinar.)

Música de Bruno Santos, locução de Eva Barros, produção de Catarina Sobral.

quinta-feira, 18 de novembro de 2021

Contraconto nos palcos



O que é isto?
É um bicho? É um risco?
É o quê? 

É um livro! É uma peça de teatro! 

É tudo isso.

O Contraconto fez um flic-flac e saltou da rádio para o palco! 

A rubrica da Antena 2 para os mais novos estará em cena em Algés a 5 e 12 de dezembro.

Não assisti aos ensaios nem vou assistir ao espetáculo, mas fico deste lado a bater barerés de palmas. É muito fixe fazer parte desta turma, bolas!

Informações e bilhetes aqui: https://www.bol.pt/Comprar/Bilhetes/102725-contraconto-teatro_municipal_amelia_rey_colaco/


segunda-feira, 15 de novembro de 2021

Mary John em catalão!


 💫Alegria a rodos!

A Mary John acaba de aterrar na Catalunha.

Ainda agora deu entrada nas livrarias e já me chegam mensagens de jovens leitores, professores, mediadores, jornalistas, livreiros.

Imagino a Mary John na sua vidinha lá em Barcelona, a esquiar nos Pirenéus, a bambolear-se pela Costa Brava, a descer as Ramblas, a piscar o olho ao Gaudi, e sinto aquele entusiasmo vão dos pais que ficam na bancada a assistir à vida dos filhos.

📖 Uma edição da L’Altra Tribu, com tradução de Mercè Ubach.

📸 Foto algures em Barcelona cedida pelos autores do bookstagram “Els Bookhunters”.

quarta-feira, 20 de outubro de 2021

Na Wook

A convite da Wook, fiz uma lista de seis livros da minha vida. Apercebo-me agora de que não consta da minha lista nenhum autor português. Como pude fazer isto ao Vergílio Ferreira e ao António Lobo Antunes? Também não incluí nenhum livro de poesia ou de contos.

Enfim. É só uma lista. Naquele dia foram estes seis livros. Noutro dia seriam outros.

Obrigada à Wook pelo convite e também pela simpática nota biográfica.

https://www.wook.pt/wookacontece/novidades/noticia/ver/wook-le-ana-pessoa/?id=196685&langid=1&fbclid=IwAR0eH1pkJQ1BkK2kKqRpLGzMdbEFuQhyzh9nn_l-rckxqI9dCe0gvbhGRYU

sexta-feira, 8 de outubro de 2021

Juan José Millás

 “De facto, já morri várias vezes
ao longo da minha vida
e ressuscitei outras tantas.
Morro e ressuscito com tanta facilidade
que por vezes creio estar vivo
quando estou morto,
e vice-versa.”

Juan José Millás, “La vida a ratos”
(citação traduzida por mim)

Hei de sofrer muito quando Juan José Millás morrer de vez. Se tudo correr conforme previsto, há de morrer antes de mim e eu hei de chorar. 

Não conheço Juan José Millás, mas gosto dele como se gosta de um tio, de um professor, de um mentor.

Poderia ler Juan José Millás durante horas. Poderia ouvi-lo também durante horas. Sempre que o leio, sinto precisamente isto: que estive a lê-lo e também a ouvi-lo. Sinto aliás que o conheço, que frequento a sua casa, o seu escritório, que aprecio muito a sua maneira de gesticular e caminhar, que ele me dá livros e recortes de jornais, que nos abraçamos nas despedidas. “Adiós, Anita de mi corazón!”, diz-me Juan José. Só ele me trata por Anita. Mais ninguém.

Ando há meses a ler o seu diário ficcionado. Não é bem sobre o dia-a-dia do Juan José, mas é certamente sobre o dia-a-dia do Juan José. Chama-se “La vida a ratos”, mas o título nada tem a ver com ratos nem ratazanas. “La vida a ratos” poderia ser traduzido por “A vida às vezes” (É mesmo verdade que não existe uma edição portuguesa deste livro?)

Não leio este diário todos os dias. Leio-o às vezes, aos pedaços. E tudo nele me emociona até às lágrimas. Os gin tónicos que Juan José bebe nos cafés, as suas aulas de escrita criativa, as suas conversas com a psicanalista, as suas fobias e paranoias, aquela mania de tomar ansioliticos a torto e a direito, as suas ponderações culinárias. “Na vida tudo se pode fazer depressa, menos um refogado”, diz ele a páginas tantas. 

Aquela reflexão linda sobre a sua infância: de que ele era uma criança muito triste, a mais triste de toda a sua geração. A sua obsessão pela mãe. A convicção de que ainda ouve a mãe pigarrear na sala, anos depois de ela ter morrido. Aquele pressentimento de que tudo isto pode ser uma farsa, de que nada é verdadeiramente real. De que o mundo por vezes mostra o seu verdadeiro (falso!) rosto. Por exemplo, quando damos com um relógio parado ou com um copo virado para baixo, quando abrimos um livro ao contrário, quando um ovo traz duas gemas, quando qualquer coisa parece não estar no seu devido lugar. A ideia de que a escrita pode ter essa missão: desconfiar sempre da realidade.

A certa altura diz uma coisa memorável sobre a adolescência. A propósito de viagens e da impossibilidade de explorarmos ingenuamente um lugar. Já conhecemos todos os lugares, mesmo que não os tenhamos visitado. Tudo nos é familiar. Mas há um mundo por explorar: a adolescência, diz ele. “A adolescência é como Marte. (…) Chegamos à adolescência como Colombo chegou à América: sem sabermos nada sobre a sua vegetação, o seu clima, os seus habitantes, a sua geografia.”

Que pessoa linda é Juan José. Pessoa frágil, forte, real, ficcionada, única. Talvez o que mais me emocione em Juan José seja a vulnerabilidade que ele assume e expõe. Os seus medos, as suas frustrações, os seus ataques de pânico e de choro. Não é o que se espera de um homem ocidental com 75 anos. Ou é?

Gostava de estar com o José Juan Millás num café. Não haveríamos de falar de literatura. Não lhe pediria um autógrafo. Juro. Beberíamos um gin tónico. Só isso.

quarta-feira, 6 de outubro de 2021

2.o Congresso Internacional de Literatura para Crianças e Jovens (PUC São Paulo)

convite da professora Diana Navas marcarei presença (virtual!) amanhã, 7 de outubro, no 2.o Congresso Internacional de Literatura para Crianças e Jovens, a decorrer na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.

Estarei na companhia do escritor e ilustrador Alexandre Rampazo, do professor José Nicolau Gregorin Filho e da professora e ilustradora Juliana Loyola.




Às 9h em São Paulo, 13h em Portugal, 14h na Bélgica, aqui: 


https://www.youtube.com/watch?v=XbXUT7ZYwRc

terça-feira, 28 de setembro de 2021

Karateca na escola!


Yaaaa! Karateca entra ao soco e pontapé nas aulas de Português!

Depois de uma pandemia que encerrou escolas e bibliotecas, enclausurou os alunos em casa e confiou a aprendizagem às plataformas digitais, não surpreende que a aquisição de competências tenha definhado em todos os níveis de ensino.

Para combater este abrandamento no que toca às competências de leitura e escrita entre os mais novos, o Plano Nacional de Leitura voltou (e bem!) a apostar na leitura orientada em sala de aula.

Os professores são convidados a pegar em obras de referência e a ler e trabalhar excertos com os alunos do 1.o e 2.o ciclos durante o tempo de aula. Caberá aos professores escolher entre a leitura em silêncio ou em voz alta, e entre atividades individuais ou coletivas. Importante será garantir que todos os alunos tenham o livro em mãos durante o momento de leitura.

A convite do Plano Nacional de Leitura, colaborei na elaboração de alguns dos materiais propostos e é com enorme orgulho (e lágrima no olho) que vejo a minha Karateca a entrar nas aulas do 6.o ano. 

Palmas ao PNL por mais esta iniciativa. Boa sorte aos professores e alunos. E, já agora, um amplo e certeiro rotativo na boca desta pandemia! 

Link para esta iniciativa do PNL: https://pnl2027.gov.pt/np4/plano21_23pnl2027.html

terça-feira, 21 de setembro de 2021

Fósforo no Cordão!

O “Fósforo” já anda por aí a inflamar leitores.

Joana von Bonhorst tem em mãos o extraordinário “Cordão” (sigam-no em https://medium.com/cordão), plataforma que tem permitido a muitas mães (e alguns pais) partilharem a sua experiência com os filhos.

Escreveu ela sobre “Fósforo” (no Instagram):

“Há dias queixava-me que não há muitos livros sobre a realidade da maternidade traduzidos para português e muito menos escritos na nossa língua. Mal sabia eu.

Hoje segurei um tesouro nas mãos e li-o de uma vez. Não é “só” sobre ser mãe. É sobre a vida, a morte, o acaso, o mistério. Chama-se Fósforo, é escrito (e dançado na minha cabeça) pela Ana Pessoa numa mestria de ritmo e jogo entre gargalhadas e lágrimas comovidas. O seu tamanho não faz prever a grandiosidade do que é, do que simboliza.

Editado pela Flan de Tal, é ouro à espera de ser contemplado.”

Fogo! Obrigada, Joana!

“Fósforo” contemplável no link:

https://www.flanzine.com/product/fosforo-ana-pessoa/


terça-feira, 7 de setembro de 2021

Fósforo

Assim começa o “Fósforo”🔥, o meu poema inflamável sobre uma fêmea moça mulher mãe.

Ardendo aqui:

https://www.flanzine.com/product/fosforo-ana-pessoa/





terça-feira, 31 de agosto de 2021

Fósforo

Isto de ter filhos, larvas, girinos, pintainhos, tanto faz. Isto de ser fêmea, mulher, mamífera, matrona, madame.

Cá está ele: “Fósforo”, o meu poema afogueado que brilha no escuro.

Obrigada ao João Pedro Azul pelo convite, apoio, esmero, revisão, edição, confiança e sensibilidade.

Um caderno poético da coleção “ElemeNTário”, com chancela da Flan de Tal.

https://www.flanzine.com/product/fosforo-ana-pessoa/

Estou em brasas.

sábado, 28 de agosto de 2021

Dois vezes dois


Marcámos o parto como quem marca uma consulta ou uma reunião. Quinta não dá. Sexta também não. Fica então para quarta-feira, às 8 da manhã. “Isto é só uma data indicativa”, disse o médico. “Indicativa, o tanas”, pensei eu. 

Numa consulta de monitorização, uma parteira preparou-nos para os diferentes cenários. Era comum os gémeos nascerem antes de tempo. Era possível que um precisasse de incumbadora, ou os dois até. Era possível que nenhum dos dois ficasse a dormir comigo na maternidade. 

Ai de vocês que me façam isso, disse eu para os meus botões e também para os meus bebés. Ai de vocês que nasçam antes de tempo. Levam já um estalo para perceberem como é a vida. 

Os bebés piaram fininho. Nasceram na data marcada, por cesariana. Faz hoje dois anos. Um pesava três quilos e o outro dois quilos e trezentos. Nenhum de nós precisou de assistência por aí além. Estávamos todos incrivelmente vivos da Silva, prontos para o destino.

Nos primeiros dias dormiam juntos num berço do hospital. Encostavam a cabeça um no outro, davam as mãos, entrelaçavam os dedos.

Depois viemos para casa. Eram bebés calmos. Quando começava a escurecer, choravam. Eu sentava-me na cama e, num movimento de precisão e equilíbrio, deitava os dois em cima de mim, um de um lado, outro do outro. Adormeciam assim, espalhados pelo meu peito. Por vezes começavam a resvalar pelos meus braços e eu devolvia-os à posição inicial. Ali ficávamos uma hora, duas horas. No escuro. Eles dormiam, eu também. 

Durante a noite era raro acordarem ao mesmo tempo. Ainda hoje é assim. Primeiro acorda um, depois acorda o outro. Há sempre alguém que vai parar ao sofá: mãe ou pai com um deles nos braços.

Ainda adormecem ao colo. Ainda não dormem a noite inteira.

Foi sempre mais difícil adormecer o mais pequeno. É o mais sensível, o mais dramático, o mais apegado à mãe. Está sempre a dar-me beijinhos, está sempre a dizer “dói-dói”. Até aos seis meses dormia com três elétrodos colados no torso, que o ligavam a um aparelho encarregue de monitorizar a sua respiração e batimento cardíaco. Esteve internado três vezes, sempre com infeções respiratórias.

O irmão gémeo também apanha as mesmas infeções, mas aguenta-se à bomboca. É maior e mais resistente. É também o mais compenetrado cá de casa. Concentra-se nos seus afazeres, inventa brincadeiras, não entra em grandes conflitos. Apesar disso, é o que chora mais alto, é o que morde com mais força, é o que põe toda a gente a rir. Tem os dentes tortos e é meio desajeitado, cai muitas vezes. Quando acaba de comer, atira o prato para o chão com toda a força. Os irmãos partem-se a rir.

São a nossa dupla maravilha. Brincam com o irmão mais velho. Brincam juntos. Brincam sozinhos. Quando um está a dormir, o outro faz tudo para o acordar. Se um estiver doente, ficam os dois em casa. Adoram saltar no sofá. Adoram andar de baloiço. Comem iogurte a mais. Têm muita cera nos ouvidos. Um é mais ponderado que o outro. Um é mais extrovertido que o outro. São completamente diferentes, mas quase ninguém os distingue.

Vieram de repente, em dose dupla. São o dobro do cansaço. O amor ao quadrado. Duas vezes tudo, tudo, e mais alguma coisa.



quinta-feira, 12 de agosto de 2021

FILbo 2021

Mañana lá estarei em formato virtual hablando portunhol na Feira Internacional do Livro de Bogotá (Filbo). Às 10h na Colômbia, 17h na Bélgica, 16h em Portugal.

#FILBo2021



segunda-feira, 9 de agosto de 2021

Cache-cache


Cascais. Aqui estamos os cinco. 

Vento, sol e buganvílias. 

Uma gaivota guincha, um cão ladra e eu faço 39 anos. 

Perco-me a caminho do mini mercado. Perco-me a caminho do restaurante. Quando cá vivia também era assim: perdia-me facilmente. 

Desço a rua da Panisol e lembro-me. Eu a descer esta mesma rua quase sempre sozinha, quase sempre empolgada, a caminho da estação, do café, da praia, da casa de alguém. 

Passo pelo cabeleireiro onde, aos 13 anos, cortei o cabelo à rapaz. Passo pelo centro comercial onde furei as orelhas. 

Jardim Visconde da Luz, Galileu, Santini, McDonald’s, estação. Passo por todos estes lugares sem pertencer a nenhum deles. 

Caminho no espaço como se caminhasse no tempo. Primeiro ciclo, segundo ciclo, terceiro ciclo. Secundária, universidade.

O meu filho mais velho tenta dizer o nome da minha vila. Diz: “Cache-cache”. 

Ando pelas ruas com a sensação de que não vou inteira, de que ainda não cheguei completamente, apesar de ter chegado há mais de uma semana. 

Um comboio parte. Ficamos a vê-lo passar. 

Tiro os óculos escuros para ver melhor. Tiro a máscara para respirar melhor. Mas não chego a sentir qualquer coisa que devia estar a sentir. O alívio. A euforia. A consolação depois da saudade. 

O que se sente depois da saudade?

Chegamos à praia da Conceição.

Os meus filhos brincam na areia. O homem da minha vida também. Já ninguém joga vólei na praia. O bar Brisa ainda existe.

Vou até à água. A espuma das ondas toca nos meus pés e qualquer coisa desperta em mim. O frio. A pele. A existência. 

No momento em que mergulho apercebo-me de que uma parte de mim esteve sempre ali à minha espera, de que uma parte de mim afinal não vinha a caminho. Cache-cache.

Eu nunca hei de ser inteira, real, completa. Serei sempre a menina perdida. 

Estou de passagem. A mergulhar na água. A apanhar o comboio. A descer a rua.

Sou estrangeira. Vou a caminho de um lugar qualquer. E não sei de que terra sou.

terça-feira, 20 de julho de 2021

Prosa e poesia

Acudam-me: escrevi um poema. É um poema relativamente longo, especialmente para quem não percebe nada de versos.

Nunca antes tinha escrito um poema, acho. Nem mesmo na adolescência.

Pouco me dedico a pensar na questão arcaica da prosa e poesia, mas se um dia a literatura virar desporto, eu serei sempre da equipa prosa. Adoro intrigas. Adoro histórias, diálogos, personagens. Não sei partir frases aos bocados, não sei dizer mais do que quero dizer. Escrevo sem rima, sem voo, sem pausas. 

Talvez seja uma questão de personalidade, sei lá eu. Na vida, como na escrita, sou bastante terra a terra. Esforço-me por dizer o que quero dizer, sem abstrações, sem subtilezas, sem artifícios.

Não tenho metafísica basicamente. Sou até um bocado bronca. Rio-me alto. Falo de boca cheia. Nunca me penteio. Sou prosaica na expressão e nos trejeitos. 

Acresce a isto que não sei viver nem escrever sem enredo. A passagem do tempo mexe comigo: primavera, verão, outono, inverno; um mês, um ano, uma década; as coisas que surgem e as que desaparecem. Tudo o que vamos construindo, tudo o que se vai desmoronando, a maneira como as coisas nos afetam e transformam.

Apetece-me mais escrever sobre a atuação do tempo do que sobre a espuma das ondas ou o raio de sol a pousar na esquina, por exemplo. Talvez por isso me tenha sempre esquivado à poesia. 

Interessa-me mais narrar do que focalizar. Interessa-me mais captar um movimento lento do que um momento propriamente dito.

Claro que a poesia não fala só de revelações momentâneas. E também não tem de ser complicada nem sentimentaloide. Há poemas claros como água, coloquiais, explícitos, resolutos. Os melhores poemas (e poetas) olham-nos de frente e conseguem ser bastante bruscos, viram-nos do avesso, deixam-nos assim em carne viva, com os ossos de fora. Não andam com pezinhos de lã, não recorrem a artimanhas nem a subterfúgios. E há poemas deveras prosaicos, claro, assim como há prosa bastante poética. E o que dizer das epopeias, que são verdadeiros romances em verso?

Seja como for, há algo fundamental que distingue a poesia. Uma certa disposição anímica para a dor, para a reflexão, para a ternura. Uma atenção ao mais ínfimo pormenor.

E há ainda a questão formal. A poesia, apesar de comunicar, regra geral, em verso, é um lirismo de liberdade gramatical. Aprecio bastante o regabofe sintático, semântico e fonológico da composição em verso, mas eu cá sou bastante convencional numas coisas. Gosto da ortografia, da pontuação, da sintaxe. Não sei viver nem escrever sem estrutura. Cabeça, tronco e membros. Princípio, meio e fim. Sujeito, verbo e objeto. Sou grande adepta de frases longas também, que vão da esquerda para a direita e seguem por ali fora a ziguezaguear pela página, cheias de vírgulas e complementos. Tudo isto para dizer que não tenho temperamento de poeta.

Mas eis se não quando se levantou uma nortada na minha afetividade e eu me pus a escrever um poema. É o que ando a fazer há meses: a tricotar um poema.

Descubro agora na vida e na escrita que nem sempre é possível narrar. Nem sempre o enredo cativa. Por vezes o que importa é só mesmo o silêncio para captar, na melhor das hipóteses, um instante: um raio de sol, uma nuvem, a espuma das ondas. 

Vai daí escrevi um poema com centenas de versos e olhem que gosto dele como se gosta de um filho. Talvez porque ele fale disso mesmo: de parir um filho; de ser mamífera, mulher, mãe. Ainda assim, é um poema cheio de intriga que também inclui diálogos.

Espero que o encontrem um dia. Foi para isso que o escrevi: para que fosse encontrado.

Será publicado em breve sob a forma de caderno poético, e mais não digo. 

Estou para aqui a cintilar de entusiasmo e angústia, como convém aos autores mais inseguros e a qualquer mãezinha que se preze.

domingo, 18 de julho de 2021

Los Mejores 2021: Banco del libro

Xina pá! 

A edição mexicana do “Aqui é um bom lugar” está entre “Los Mejores Libros 2021” selecionados pelo Banco Del Libro (Venezuela).





A seleção é feita por um grupo interdisciplinar de profissionais do livro oriundos de várias partes do mundo de língua espanhola.

Texto do júri (tradução minha a partir do espanhol):

“Uma voz dos nossos tempos dá conta do que muito bem compreende qualquer jovem: que ele não está nos nossos tempos, que ele está num tempo seu, feito de assincronias e selfies; de adultos perdidos e jovens que querem encontrar-se; de busca de beleza e descoberta dos próprios contrastes que existem em todo e qualquer bom lugar.”

Parabéns a nós, Joana Estrela e Paula Abramo, e a estes lugares incríveis que são as Ediciones El Naranjo e o Planeta Tangerina!

segunda-feira, 12 de julho de 2021

Desvio no Observador

Observai: “Desvio” na seleção do Observador para este verão! 

“Uma novela gráfica dos 16 (ou menos) aos 66 (ou mais)”






segunda-feira, 7 de junho de 2021

Retrato inacabado de mulher dentro de casa

Euforia aos magotes! Junto-me ao pipilar da primavera para anunciar o novo livro. Chama-se “Retrato inacabado de mulher dentro de casa”. 

Não é um álbum ilustrado, não é uma novela juvenil, não é uma banda desenhada. 

É o quê? Não sabemos. Jamais saberemos. Mas imaginamos.


Há uns anos escrevi um texto sobre uma mulher muito quieta sentada no seu sofá e a Sara Bandarra, ilustradora esvoaçante, amiga, cunhada, mulher de avental, foi dando rosto, corpo e casa a essa mulher com histórias dentro.


Espero que gostem deste nosso retrato. Nós gostamos buereré.

Trata-se de uma singela edição de autor de 50 exemplares a 10 euros o quilo (+ portes). 

Encomendas através de mensagem privada.



sexta-feira, 28 de maio de 2021

A lagartinha muito comilona

 O nosso exemplar da lagartinha muito comilona está todo desconchavado. Há páginas rasgadas e riscadas. Há uma que tem uns autocolantes. A folha das três ameixas desapareceu. Pensava que ela ia reaparecer um dia, mas isso não aconteceu. É possível que tenha sido comida pelos três rapazes ou que se tenha transformado numa borboleta.



O livro tem mais de 50 anos e vendeu, segundo a BBC, mais de 50 milhões de exemplares em todo o mundo. Foi publicado em 62 países.

Cá em casa temos um exemplar da 13.a edição da editora francesa Mijade. 

Curiosamente, o título em francês não é “A lagartinha muito comilona”, mas sim “A lagartinha que faz buracos”. Hoje aproveitei para ver outras versões de línguas que conheço: em espanhol é uma pequena lagarta glutona; em alemão é uma lagartinha que nunca está cheia; em neerlandês é uma lagartinha nunca demais, algo como “never enough”. 

Nunca é demais recordar (“never enough”) que um tradutor é também criador. Isto para o caso de ainda haver gente entre vós que pense que um tradutor se limita a encontrar termos e expressões correspondentes na sua língua.

Como todos os livros de formatos não convencionais que impliquem páginas com tamanhos diferentes e furos, o meu exemplar foi impresso na China.

Novamente segundo a BBC, estima-se que no mundo seja vendida uma lagartinha de 15 em 15 segundos.

Eu cá gosto muito da lagartinha que fez de todos nós cá em casa uns grandes comilões de livros. Mas sempre que dou por mim a comprar livros impressos na China (quase tudo o que é livro pop-up basicamente), penso que estou a apostar num modelo económico onde os interesses da criança não estão de todo protegidos. 

A culpa não é da lagartinha nem do Eric Carle, claro. Mas esta ideia faz sempre pop-up na minha cabeça quando pego em livros tridimensionais.

Obrigada, Eric Carle. 

Aposto que abriste as asas e voaste.

quinta-feira, 20 de maio de 2021

Contraconto: nenhum nenhures algures ninguém

ora fora agora embora antes ambos isso outrora 

O Contraconto (Antena 2) de hoje é assim meio aqui aí adiante além ali acolá atrás aquém quase quem aquele alguém nenhum nenhures algures ninguém.

Estou só a avisar. Este e outros episódios disponíveis a partir deste link:


https://www.rtp.pt/play/p8294/e545523/contraconto


Música de Bruno Santos, locução de Eva Barros e produção de Catarina Sobral.



sexta-feira, 23 de abril de 2021

ManiFESTA-te pela leitura!

O Plano Nacional de Leitura (PNL 2027) realizou uma série de vídeos no âmbito da sua iniciativa “ManiFESTA-te pela leitura”. 

Manifestemo-nos, pois!

Neste vídeo (link em baixo), Andreia Brites, mediadora de leitura, fala do seu encontro com Mary John e lê um excerto do livro. 

https://m.youtube.com/watch?fbclid=IwAR0A8BZmjr4KOR0LETt98fL83G8kFe64pzypmC238KwY_uj8t-ui9l-3UBw&v=LUp-byr22AA&feature=youtu.be

💫Sorte a minha e sorte a da Mary John cairmos assim no colo da Andreia Brites. Bolas!

O excerto inclui a expressão “Foste com os porcos”. 

Adoro esta expressão.🐷 Coitados dos porcos.

Acho que é a primeira vez que escrevo um post com emojis.🐽

Feliz Dia Mundial do Livro!📚

Oinc oinc.

#manifestatepelaleitura

sábado, 17 de abril de 2021

"Tres miradas a la narrativa gráfica"

No outro dia estive a falar portunhol num evento online, no âmbito da iniciativa "Se Lee" organizada pela Universidade Veracruzana do México. 


O melhor deste encontro foi ficar a conhecer o trabalho e o processo criativo dos ilustradores mexicanos Amanda Mijangos e Emmanuel Peña. O tema de debate era a novela gráfica.

O vídeo pode ser visto aqui: https://fb.watch/4V32i48UWF/

Obrigada aos organizadores pelo convite. México é um bom lugar!


sexta-feira, 16 de abril de 2021

Eu Mas Eu Mais

Eu ai, eu ui. Eu céu, eu chão.

Já lá vão quase três anos e o percurso deste mini micro é muita splash.


Escrevi este poema com o meu filho recém-nascido ao colo. A Madalena Matoso encheu o poema de desenhos muito eu som, eu sol.
A primeira edição esgotou há uns tempos e já anda por aí a segunda.
No Brasil ganhou o selo “altamente recomendável”.
Em Portugal entrou diretamente para o Plano Nacional de Leitura.
E consta-me agora que este livro eu cof, eu choc, sairá em breve em língua espanhola.
Caramba. Agora ia para uma esplanada.
Yo soy, yo sé. Yo snif, yo nhec.

sexta-feira, 2 de abril de 2021

Dia internacional do livro infantil

O meu filho mais novo está inconsolável. 

Tem um ano e meio e, depois de 48 horas em ambiente hospitalar, que implicaram a inserção de agulha na mão direita para recolha de sangue, a colheita de secreções nasais através da introdução de um longo tubo de plástico pelo nariz acima, a colagem de elétrodos no torso, a colocação de um sensor no dedo do pé, a inserção de cateter na mão direita, a fixação de um circuito de tubos de plástico à volta da cabeça com saída de oxigénio nas narinas, o encontro com numerosos enfermeiros e médicos cobertos de batas e máscaras, a realização de duas sessões de fisioterapia respiratória e a passagem de duas noites mal dormidas por causa dos fios, dos elétrodos, do sensor, dos alarmes, do ranho, do cateter, e o raio que a parta, mãe e filho estão exaustos, impacientes e meio tantãs.

O meu filho chora. Uma enfermeira acaba de lhe lavar o nariz com um jato de soro fisiológico. Tento acalmá-lo no colo mas eu própria também preciso de um colo.

A enfermeira pediátrica, entretida a desenlaçar os fios que prendem o meu filho a vários aparelhos, pergunta-me se não trouxe um brinquedo para o menino. Explico-lhe que os fios que ligam o meu filho aos vários aparelhos me impedem de chegar à outra extremidade do quarto, onde se encontra o saco dos brinquedos. A enfermeira prontifica-se imediatamente a ir buscar o saco. Agradeço-lhe a atenção e a simpatia. 

O meu filho chora nos meus braços enquanto abro o saco. Encontro, no meio dos legos e panelas, a ovelha e o crocodilo de que o meu filho tanto gosta. Hesito entre uma e outro, mas acabo por escolher um livro. O meu filho acalma-se assim que vê a menina da capa. Senta-se na sua cama a folhear o livro. 

A enfermeira pediátrica, sempre afetuosa, diz-me num tom complacente: “Ó mamã, o seu filho não precisa de livros com esta idade. O seu filho precisa é de brincar!” 

Olho para a enfermeira incrédula, mas a enfermeira olha agora para o meu filho de ano e meio e diz-lhe naquele tom infantil e tolo que as pessoas usam para falar às crianças: “Os livros são para mais tarde, bebé. Para partires a cabeça a fazer trabalhos para a escola. Agora tens de brincar!”

O meu filho olha para a enfermeira já mais calmo e regressa depois ao seu livro.

À saída do quarto, a enfermeira diz-me entusiasmada que anda uma raposa lá fora nos charcos. Que sou capaz de a ver da minha janela. A enfermeira diz ainda que gosta muito de raposas, que são animais muito bonitos e inteligentes. Concordo.

Passo os minutos seguintes à janela, de olhos postos no relvado à volta dos charcos. Apercebo-me nesse momento de que estou sem os óculos, nem sequer os trouxe para o hospital. Não consigo usá-los com a máscara nas fuças e, assim como assim, não há um horizonte onde pousar os olhos desde que a maleita chegou há coisa de um ano. Em março de 2020, por sinal, estava com o meu filho no hospital. Celebramos agora o aniversário da peste exatamente no mesmo hospital, já em clausura. Isto para dizer que me habituei ao longo deste ano a não enxergar a ponta de um corno. Desisti de usar óculos. Desisti de ver basicamente. 

Ainda assim, fico à janela. 

Vou olhando lá para fora enquanto penso na enfermeira pediátrica e nas muitas pessoas inteligentes e astutas como raposas, que ainda hoje consideram que os livros não são para meninos, que os livros existem para nos partir a cabeça e jamais para nos divertir ou encantar. Que não reconhecem propósito nenhum nesta coisa dos livros para crianças.

Ironicamente o livro que o meu filho folheia fala de uma grupeta de brinquedos que aguarda impacientemente o regresso a casa do menino que irá brincar com todos eles. O livro chama-se “Alors ?” na versão francesa, é da extraordinária Kitty Crowther (Catherine Crowther) e inclui um corvo, um cão, um coelho, um gato, um mocho e um urso que vão entrando um a um no quarto e perguntando a uma boneca: “Então?” (“Alors ?”) “Ele já chegou?” A boneca vai dizendo: “Não, ainda não chegou!”, até ao momento em que todos ouvem um barulho e o menino entra de rompante pelo quarto adentro, onde é recebido em grande euforia pelos seus companheiros de brincadeira.

Enquanto espero pela raposa que nunca chega a aparecer (ou que eu nunca chego a ver), penso no desencontro entre livros e não-leitores. Concluo que, como leitora e autora, devia ter interpelado a enfermeira pediátrica. Ouça lá, devia ter-lhe dito, que grande parvoíce acaba de dizer. Os livros não são para mais tarde. Os livros são para todos, em todas as idades, em todos os momentos. Isso vindo de si, devia ter-lhe dito com o dedo indicador no ar, uma enfermeira que trabalha exclusivamente com crianças, fica-lhe mesmo muito mal. 

Procuro a raposa nos charcos e imagino-me a mostrar este livro da Kitty Crowther à enfermeira, a conquistá-la a cada página. A persuadi-la de que um livro não parte cabeças. Um livro consola, emociona, surpreende e brinca também.

Infelizmente a enfermeira não regressa ao meu quarto. Fico triste com a oportunidade perdida porque é esta a missão de todos os que leem e escrevem: nunca parar de defender o livro, nunca deixar de fora um potencial leitor, nunca deixar de fazer a pergunta “Alors ? Ele já chegou?” Porque um dia, quem sabe, esse leitor vai chegar e todos nós, que fazemos parte da festa dos livros, vamos querer recebê-lo em grande euforia.

Temos de estar atentos como raposas.

Feliz dia internacional do livro infantil!

sexta-feira, 5 de março de 2021

O Gnu e o Texugo na RTP3

Hoje, “O gnu e o texugo” fecham em grande estilo no "Todas as Palavras".


Nas palavras de Inês Fonseca Santos:

Um programa com tanta poesia, essa arte antiga de baralhar a linguagem e o mundo, conferindo-lhes um novo e inesperado lugar, não podia terminar sem a companhia de “O Gnu e o Texugo”.


Porquê?


A resposta está no subtítulo deste livro, escrito por Ana Pessoa, desenhado por Madalena Matoso e publicado pelo Planeta Tangerina. Diz assim: “Cuidado com o vento”.


E a verdade é que o vento também baralha sentidos e vira o mundo de pernas para o ar, colocando-nos no tal inesperado lugar, aqui imaginado por duas das autoras que mais nos espantam sempre que criam um livro novo.”

Episódio completo aqui: https://www.rtp.pt/play/p8281/e528715/todas-as-palavras

domingo, 21 de fevereiro de 2021

“Supergigante” na Sérvia

O “Supergigante” acaba de chegar à Sérvia!

Eu corro, o rapaz corre, o tempo corre.

Tudo corre.

Estou feliz pra chuchu.


Não vi ainda nenhum exemplar, mas a editora Urban Reads publicou esta foto.

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2021

terça-feira, 9 de fevereiro de 2021

Mary John em neerlandês

Yuhuu! A Mary John já anda por aí a desconfinar em neerlandês. Edição da Querido Kind com tradução da entusiasta Finne Anthonissen.

Estou que não posso.

Tirei umas quantas fotos ao meu exemplar.









sexta-feira, 29 de janeiro de 2021

Prémio Fundación Cuatrogatos 2021

Miaaauuu! 

Cá vão umas notícias dos United States of America:


A edição mexicana do “Aqui é um bom lugar” é finalista nos Prémios Fundación Cuatrogatos.



A fundação tem sede em Miami e promove a leitura e a educação junto da comunidade de língua espanhola.


A seleção Cuatrogatos é das únicas no mundo que distinguem as melhores obras de literatura infantojuvenil de entre todos os países de língua espanhola.


Para a edição de 2021 foram consideradas 1194 obras provenientes de 16 países.


Miau! Miau!


Estamos para aqui todos a ronronar de felicidade: a Joana Estrela, a tradutora Paula Abramo, a editora El Naranjo, o Planeta Tangerina e eu também, claro!


Miau para nós!


Link para o Prémio Fundación Cuatrogatos 2021: https://www.cuatrogatos.org/docs/premio4g/premio4gyear_28es.pdf