terça-feira, 22 de março de 2016

Estava sol


Hoje não vim de metro. Viemos a pé. Eu e ele de mão dada. Estava sol.
Pensei: A primavera já cá canta.
Vi um passarinho pequerruxo. Vi árvores floridas.
Despedimo-nos no cruzamento. Ele foi para um lado, eu fui para o outro.
Uma mensagem no WhatsApp e depois outra: uma bomba no aeroporto. Credo.
Apeteceu-me uma musiquinha alegre. Apercebi-me de que o meu gosto musical é deprimente. Felizmente encontrei uma canção foleira com batuque. Para afastar pensamentos foleiros.
Desci a rua que vai dar a Maalbeek.
As minhas mãos muito soltas, para a frente e para trás.
O passeio cheio de terra. Que chato.
Pensei: Estas obras nunca mais acabam.
Pensei: Vou ficar com as botas todas salpicadas.
Vi várias pessoas paradas no meio da estrada. Traziam telemóveis em punho, estavam a filmar qualquer coisa.
Vi um carro de bombeiros. Vi bombeiros. Vi um grupo de senhoras com véu. Pareciam assustadas.
Interrompi os batuques. O que se passa? Alguém diz: Uma bomba no metro. Um rapaz diz: Que horror!
Recebo outra mensagem. Bélgica em estado de alerta. Toda eu em estado de alerta.
Entrei no edifício. Mensagens por todo o lado. WhatsApp. Messenger. Emails. Mensagens. Os que estão, os que não estão. Eu respondo: Estamos bem. We are OK.
Da minha janela vi a Rue de la Loi a ser evacuada. 
De repente não havia ninguém. Nem sequer um carro. Uma pessoa. Um gatinho.
Só então me ocorreu que podia ter morrido hoje. Naquela carruagem. Naquela estação. Àquela hora.
Mas hoje viemos a pé. Estava sol.
À tarde fomos evacuados. Eu e a Rosa viemos a pé. Passámos em frente à loja portuguesa. Passámos em frente aos frangos assados. Quase não falámos. Viemos dar à Flagey. Depois dissemos adeus. Uma foi para um lado, outra foi para o outro.
E de repente apeteceu-me entrar na livraria. Apeteceu-me comprar um livro. Apeteceu-me comprar chocolates. Comprei um livro e um saquinho de ovos da Páscoa.
Estive a ler na varanda e a comer ovos da Páscoa. Comi um azul, outro castanho, outro cor de rosa, outro verde. Também estive a escrever isto.
Os ovinhos cor de rosa ficam a explodir na boca. É mesmo verdade. Fazem barulho por dentro.
O livro que eu comprei chama-se ICI.
Título original: HERE.

AQUI.

terça-feira, 15 de março de 2016

TEDx Brussels 2016

Ontem fui ao TEDx Brussels 2016. O tema era profundo e futurista. Assim: Deeper Future. Por que não? Ando com sede de ideias e pessoas pra frentex.
Sentei-me na terceira fila e tirei umas notas, comi uns chocolates. Não se esteve mal.
17 oradores, 1500 pessoas, 20 e tal nacionalidades.
Falou-se, claro está, do futuro. O futuro da alimentação, o futuro da segurança, da privacidade, o futuro da igualdade, da medicina, do sistema bancário. O futuro da arquitetura e das cidades. O futuro da cerveja e do amor.
Alguns conceitos novos: receitas climáticas, computadores alimentares, cidades inteligentes, masturdating, citizen lobbying, medicina participativa, casamentos a solo, roupa digital, economia para o bem comum.
Uma das oradoras pôs-se de cabeça para baixo. Em posição vertical invertida. Estava de saltos altos cor de rosa apontados para o teto. Disse: Pensem noutra perspetiva.
Algumas frases: Temos de modificar o ambiente e não as plantas. Temos de democratizar o clima para democratizarmos a alimentação. Temos de amplificar a voz dos doentes. Não há privacidade sem segurança. Precisamos de mais Europa. A diversidade é essencial para a inovação. As empresas privadas têm de cuidar do bem comum. Não precisamos dos homens para nada. Não podemos perder a fé na democracia. Quando as instituições políticas caem, há grandes transformações. Vimos isso com a Jugoslávia. As instituições europeias estão em crise. Um telefone protege muito mais do que uma mala de viagem. Imaginem cidades capazes de falar. Os semáforos vão desaparecer. Quanto mais a sociedade investe na profissionalização, menos beneficia das nossas capacidades. Estamos presos nas nossas profissões, nos nossos sistemas de ensino. Somos espectadores e não atores. Somos consumidores e não cidadãos. A participação cívica é um valor intrínseco. Não basta votar e assinar petições.  Vamos atingir o pico da cultura narcisista. Selfie é o produto do narcisismo. Algumas pessoas morrem a tirar selfies. Narciso também morreu porque se apaixonou por si próprio. If you outsource falling in love, you outsource the essence of love. Without the fall, there is no love. Quem controla o presente, controla o passado. Quem controla o passado, controla o futuro. As cervejarias artesanais estão de volta. Beer with more meaning, more taste, more fun. É possível fazer cerveja a partir de pão feito a partir de cerveja. Os bancos procuram o lucro à custa da sociedade. O dinheiro é um meio e não um fim. A atividade económica tem de servir o bem comum.
Fiquei a saber que uma chave mestre abre todos os elevadores e portões em Nova Iorque. Que os talibãs são muito ativos na sneackernet. Que mais de 4 mil milhões de pessoas não têm acesso à Internet. Que um dia vamos poder imprimir a nossa roupa em casa.
Fiquei a conhecer a Marble Machine. Fiquei com vontade de ler a obra do filósofo croata que tinha umas ideias larocas. Quero conhecer melhor o islandês que faz música a partir de sons de Bruxelas. Por exemplo, sirenes, elevadores, comboios, sinos.
Umas perguntas no ar: Qual é o nosso contributo? Quantas vezes já fizemos a diferença?
O que é a cidade ideal?
As escolas devem estar orientadas para o lucro? Os hospitais devem estar orientados para o lucro? E os bancos? Por que razão estão orientados para o lucro?
O que será o amor no futuro?
No final fiquei baralhada das ideias e andei aos saltinhos por Molenbeek, o bairro mais terrorista e aterrorizado de toda a Europa. Vi crianças a rir, mulheres a conversar. Vi fruta fresca nas mercearias de esquina, laranjas, toranjas, maçãs. Vi o sol a bater nas janelas. Vi pessoas de cá para lá. Vi vários homens carecas no cabeleireiro e isso deu-me vontade de rir. Não tive medo nenhum. Estava numa de participar na cidade. De fazer a diferença. Em total masturdating.
Até tirei uma selfie.

sexta-feira, 4 de março de 2016

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