quarta-feira, 27 de março de 2013

O Planeta Tangerina é a melhor editora infantojuvenil da Europa

O Planeta Tangerina foi a melhor coisa que aconteceu à literatura infantojuvenil em 2013 na Europa.

É verdade! Agora já não parece mal dizer, é oficial. Não fui eu que disse. Também não foi um júri qualquer. Também não foi uma instituição qualquer. Foram mesmo as outras editoras presentes na Feira do Livro Infantil em Bolonha, que é, por sinal, a maior feira de livros infantojuvenis.

Eu, por acaso, também acho que o Planeta Tangerina foi a melhor coisa que aconteceu à literatura infantojuvenil e, como sabem, a minha opinião, além de qualificada, é com-ple-ta-men-te imparcial.

Aqui há umas semanas, A Ilha, do João Gomes de Abreu e da Yara Kono, também recebeu nesta mesma feira uma menção honrosa como primeira obra.

É do caneco!

quinta-feira, 21 de março de 2013

21 de março - Dia Mundial da Poesia

O dia 21 de março também é o Dia Mundial da Poesia.
Seja.
Eu não sou muito de ler poemas, fico sempre perdida num poema. Não sei o que fazer com ele. Se devo comê-lo ou abraçá-lo, se devo levá-lo comigo, se devo deixá-lo em paz. Fico insegura em frente a um poema.
Mas à falta de raios de sol e árvores farfalhudas, fui ler poemas ali e acolá. Um poema não é um raio de sol, mas sempre ilumina por dentro.

Nunca me canso do amor nem do Espaço, por isso hoje lembrei-me deste poema do Jorge Sousa Braga e perguntei por ele ao Senhor Google:

Esta noite sonhei oferecer-te o anel de Saturno
e quase ia morrendo com o receio de que ele não
te coubesse no dedo

Gosto destes versos. Eu, se fosse um homem de jeito e quisesse casar com um mulherão como eu, gostaria de ter escrito este poema.
Infelizmente não sou um homem de jeito e não quero casar com um mulherão como eu.
Ainda assim, gostaria de ter escrito este poema.

E a cintura de asteróides? Se calhar não há nenhum poema sobre a cintura de asteróides.
A cintura de asteróides tem pano para mangas.
É capaz de dar um poema bonito.

21 de março - Primavera

Gosto à brava do dia 21 de março.
Não estou sozinha nisto, claro. Toda a gente gosta à brava do dia 21 de março!
O dia 21 de março é dia para tudo e mais alguma coisa.

Por exemplo, no calendário do hemisfério norte a Primavera começa hoje e isso, para mim, é motivo suficiente para festejar. Todos os anos bato palmas e sopro as velas no dia 21 de março. É óbvio que a Primavera ainda não chegou a Bruxelas (very cloudy, max. 8 ºC, min: -1 ºC,  feels like 4.º C), mas aqui não se olha para o céu, olha-se para o chão ou então para dentro. É muito mais giro. Neste momento, por dentro, é só raios de sol para uns e para outros, pintos e passarocas ao rubro, amem-se para aí.

Alto! STOP!

Estava aqui a escrever este texto à la século XXI (no Word) e o corretor ortográfico acaba de sublinhar a palavra Primavera a verde. Fui lá cheirar com o rato: o corretor aconselha-me «a utilização de minúscula inicial».
Digo: Aaaah, pois, o Acordo Ortográfico! (feels like -10 ºC)

As estações do ano agora não são ninguém, coitadas. Vêm minúsculas. Não tenho nada contra um outono comum mortal e acho muito bem que o inverno fale baixinho. O próprio verão nunca teve muita credibilidade, anda de chinelo no pé, já perdeu o estatuto há muito. Mas isto de escrever Primavera com minúscula parece-me ligeiramente desrespeitoso.

A Primavera é mãe desta gente toda e tem um certo nível de requinte. É ver as flores de cerejeira no Japão, por exemplo. A Primavera é uma lady (e também uma louca). Não é um nome comum.
Custa-me escrever Primavera com minúsculas.
É como cometer uma gafe protocolar numa visita de Estado. Ou dizer o nome de Deus em vão.
Cruzes canhoto!

quarta-feira, 20 de março de 2013

A concretização pessoal

A concretização pessoal é apanhar o metro no último momento. Nada me realiza mais do que este sprint final. É preciso imaginar o cenário: as portas do metro a fechar, o metro a apitar por cima e por baixo. É que não vale a pena sequer tentar. Mesmo as pessoas mais apressadas e atarefadas já desistiram, são bons perdedores. Descem as escadas devagar com as suas muitas pernas, minhoquinhas debaixo de terra.
Mas eu hoje dei um sprint final e, contra todos os prognósticos, apanhei o metro. A boca fechou mesmo atrás de mim, foi impressionante. Um milímetro ao lado e eu já não teria sido engolida pelas portas, teria sido triturada ou, pelo menos, trincada. O perigo era, pois, eminente.
Uma vez, as portas do metro deram-me uma trinca no ombro e doeu bastante. Fiquei com uma nódoa negra bem gorda durante vários dias. Mas, desta vez, saí (entrei) ilesa.
Fiquei tão feliz com este meu feito que me esqueci das regras da coexistência urbana e meti logo conversa com estranhos: Ufa, foi por um triz!*
As minhoquinhas perdedoras ficaram para trás, coitadas. Acenei-lhes. Tchaaau! 
Eu até nem sou de correr para o metro. Não percebo muito a filosofia de correr para o metro. Tenho a mentalidade das pessoas atrasadas: mais cinco minutos ou menos cinco minutos é igual. De manhã, sou lenta como uma tartaruga, não me mexo muito. Quando saio de casa, evito até olhar para as pessoas, porque de vez em quando lá vem mais uma ave-rara de mapa na mão e faz-me perguntas. Isto irrita-me muito, porque de manhã não me apetece nada ajudar as pessoas. Ajudar as pessoas de manhã é extremamente cansativo.
Mas hoje, não sei, estava mais desperta e deu-me para um sprint final.
Era ver a tartaruga a sair da casca, num fôlego de esperança.
E apanhei o metro.
Foi espetacular!

*Bem, eu não disse Ufa, foi por um triz! Eu disse qualquer coisa menos espontânea num francês de nono ano e não obtive resposta.



quarta-feira, 13 de março de 2013

Hoje vi o sol

O sol olhou para mim e eu olhei para ele.
Depois o sol desapareceu e eu fiquei outra vez sozinha.
A vida continua sem o sol.
As minhas plantas, por exemplo, sobrevivem.
Eu também sobrevivo.

É possível viver da saudade.
A saudade é como a Vitamina D.
Permite a absorção do cálcio ou assim.

No sol também chove.

É verdade.
Descobri outro dia.

segunda-feira, 11 de março de 2013

Eu não gosto da neve

Batem leve, levemente,
E não tarda vou-me daqui.
Será correto? Será decente?
Correto não é certamente
E o decente não é p'ra mim.

Basta!

Eu não gosto da neve.

Pronto, já disse. Está dito.
E já agora repito:

Eu não gosto da neve.

Eu escorrego na neve. Às vezes caio, é horrível.
Parem de nevar em cima de mim.

Eu sou do oceano frio. Sou da areia e do vento.
Eu sou do sol.
Sou do sal.
Sou salgada.

Aqui põe-se sal na neve, mas não na comida.
Eu não sei pôr sal na neve.
Eu só ponho sal na comida.

Eu não sou da neve. Não sou daqui.
E não tarda vou-me.
Felizmente está vento.

Tenho as orelhas a arder. Que bom!

Já tinha saudades de uma ventania assim.

sexta-feira, 8 de março de 2013

Dia Internacional da Mulher

Hoje, além de sexta-feira, é Dia da Mulher. Eu gosto do Dia da Mulher, de pensar nas mulheres, de celebrar as mulheres. As que estão e as que já estiveram, as mulheres do meu círculo, as do meu clã. Também penso nas outras mulheres. Nas que não conheço, que nunca conheci nem hei de conhecer, porque já morreram ou não pertencem ao meu mundo.  
Nas que ficam sem uma mão porque querem estudar, por exemplo.
Nas que são apedrejadas em praça pública. Nas que levam dois tiros, porque defendem o direito à educação.
As mulheres têm direito à educação e à liberdade de pensamento. Foi a ONU que disse, não fui eu. Também têm direito à liberdade e à segurança pessoal. Têm direito à privacidade. À liberdade de reunião e participação política. As mulheres têm direito a não ser submetidas a torturas e a maltratos. Têm direito a decidir ter ou não ter filhos e quando tê-los. Têm direito aos benefícios do progresso científico.
E, no entanto, a maior parte das mulheres nem deve conhecer os seus próprios direitos.
As mulheres têm direito à igualdade, claro. As mulheres ocidentais, pelo menos, sabem perfeitamente disso, mas às vezes confundem-se. São gajas.
As mulheres ocidentais querem igualdade para umas coisas e para outras não.
Querem receber salários iguais aos dos homens (certo). Querem estar nos conselhos de administração das empresas (certo), querem exercer uma atividade política (certo). Querem ter filhos e uma carreira (certo e certo). Não querem que lhes segurem a porta (mais ou menos). Não querem ser discriminadas (certo). Não aceitam que lhes digam: Isso é um livro pa gajas, Isso é um cocktail pa gajas, Isso é conversa de gajas, porque tudo o que diz respeito à mulher ou ao homem pertence a toda a humanidade. Não à discriminação!
Mas no Dia das Mulheres (e noutros dias também), alto! As mulheres ocidentais, de repente, deixam de querer ser iguais aos homens. Já não querem igualdade de tratamento, querem receber flores e bonbons. Querem ser tratadas com cavalheirismo. Querem andar aprumadas por cima e por baixo e fazer um bolo bonito, como as mulheres norteamericanas dos anos 50. Querem ser boas na cozinha, boas na escola e boas na cama, querem ser melhores do que os homens em tudo isto. Querem ser, no absoluto, as melhores. As mulheres. Por causa disso, também querem ter partos naturais, porque se esqueceram dos benefícios da ciência e têm um certo apego à dor.

As mulheres são mesmo gajas.
É que são mesmo. 

Hoje, vou beber um copo por todas elas. Um cocktail assim de gaja, como eu gosto.  Com cores de gaja e sabores de gaja.

Ai dele que não me ofereça uma flor hoje!

quarta-feira, 6 de março de 2013

Django - Western Spaghetti à la Tarantino

Tenho três fraquinhos. Um por Western Spaghettis, outro por humor negro e outro ainda pelo Quentin Tarantino. Por tudo isto, quando fui finalmente ver o Django, a minha expectativa ia bem alta.
O filme surpreende, claro, porque o Tarantino é assim; surpreende. Os atores também. 
Dois homens andam de cavalo pelo Faroeste, à caça de bandidos com cabeça a prémio. Wanted: dead or alive. O objetivo destes dois homens não é praticar o Bem, claro, é ganhar dinheiro. Eles vivem, os outros morrem, assim é que está certo. Os cadáveres são, portanto, tesouros.
OK, o argumento é estapafúrdio, mas funciona precisamente por ser estapafúrdio. O estapafúrdio é real: gente a matar e a morrer, escravos negros que sobrevivem ao chicote, tortura, vingança, homens contra homens.
Diálogos curtos e duros, de fazer subir a tensão e o riso.

- Positive?
- I don't know.
- You don't know if you're positive?
- I don't know what positive means.
- It means you're sure.
- Yes.
- Yes, what?
- Yes, I'm sure... - pum, tiro certeiro, homem ao chão.

- I'm positive he's dead.

Mas o filme também é uma história de amor. Uma bela e um monstro que, por acaso, também são uma monstra e um belo. Têm marcas de chicotes nas costas e uma marca de ferro no rosto, trazem toda uma história de escravatura aos ombros. E a vingança fica bem aos mais sofredores, que são simultaneamente os mais fracos e os mais fortes. Não há nada como um escravo livre e apaixonado para vingar os seus.
São quase três horas de entretenimento a sério com muito sangue a brincar. E o espectador é o mais cruel, porque se ri às gargalhadas com sangue a jorrar e gente má a praticar o Mal.

Resultado: ontem fui tirar sangue sem medo e até fiquei a ver o meu sangue a sair. A enfermeira deve ter ficado impressionada. Eu, pelo menos, fiquei. Nunca tinha visto o meu sangue a sair.
É divertido ver o sangue a sair.

Django. The «D» is silent.

Há filmes que têm este poder sobre nós, que nos fazem bem, que nos querem mal, que nos ensinam qualquer coisa.  Eu, por exemplo, fiquei a saber que há um certo Bem dentro do Mal e que o meu sangue é escuro e denso.

segunda-feira, 4 de março de 2013

Música a fingir que não é

Gosto de música a fingir que não é, de vozes que quase não são. De música mascarada de história contada ou assim. 
Como é óbvio, não percebo nada de música, o que deve fazer de mim uma pessoa ainda mais pobre de espírito. Mas cada um é como cada qual e eu sempre fui dura de ouvido e bruta de voz.
Aparte comprido: Lembro-me bem dos dias passados na escola de música. Até gostava das aulas práticas, de aprender os acordes novos e de decifrar as músicas dos outros, mas as aulas de solfejo eram um martírio. A professora dava-nos música e nós tínhamos de distinguir o si bemol de outra coisa qualquer e fazer contas às semi-colcheias. Os ditados de figuras e pausas eram uma arte da adivinhação. Era como jogar à batalha naval, mas sem perceber se tínhamos acertado ou não no porta-aviões. Não tinha a semínima piada. Além disso, era impossível copiar pelos colegas do lado, porque os colegas do lado eram bons de ouvido mas maus de coração. 
Felizmente, não é preciso perceber de pautas musicais para gostar de música. Sou dura de ouvido, mas ando pela rua com headphones na cabeça. Uns headphones grandes, que também servem de bandolete. 
Gosto de ter uma banda sonora para os meus dias.
Uma boa banda sonora para os meus dias é a do filme Juno, porque as canções deste álbum induzem em erro, fingem que são outra coisa. Gosto em particular da canção fofinha dos Moldy Peaches, porque os Moldy Peaches têm o Adam Green lá dentro e o Adam Green é sempre uma boa coisa. 
Gosto das canções do Adam Green, da sua voz muito grave e muito fácil ao mesmo tempo (nada é grave e fácil ao mesmo tempo). Gosto dos caracóis do Adam Green, das suas maluquices. O Adam Green é um músico a fingir que não é. 
Gosto à brava do Adam Green. 
Eu e o Adam Green.
We sure are cute for two ugly people. 

sexta-feira, 1 de março de 2013

Flocos de Neve


Quando penso em miminhos, lembro-me sempre de uma menina lá da escola. Era uma menina muito pequenina, devia ter uns 5 anos. Por vezes - não sei por que carga de água - a menina muito pequenina ia até ao bar da escola e comprava dezenas de Flocos de Neve com uma moeda grande. A menina enchia então os bolsos do casaco e das calças com os rebuçados e depois andava pela escola a distribuí-los pelos outros meninos. Queres um rebuçado? Toma, é para ti! Papelinhos vermelhos por todo o lado, era uma autêntica festa de Flocos de Neve.
Claro que a menina ficava à espera que os seus Flocos de Neve fossem retribuídos com miminhos. Era pequenininha, mas não era parva. E a verdade é que a menina recebia sempre miminhos de volta. Os mais velhos faziam-lhe cócegas, por exemplo, e fazer cócegas é dar miminhos para rir.
No fundo, as relações humanas não vão muito além disto: dar e receber Flocos de Neve para depois dar e receber Flocos de Neve.
Dizemos Gosto de ti! e ficamos à espera que os outros também gostem de nós.
Dar para receber para dar para receber para dar para receber para dar para receber.
Já os mercados financeiros não são nada assim. Os mercados financeiros nem sequer sabem apreciar Flocos de Neve.
Mas, enfim, os mercados financeiros não têm nada a ver com a natureza humana.
Não têm?!
Não, não têm.
Os mercados financeiros pertencem a outra espécie e do cruzamento entre seres humanos e mercados financeiros não saem mulas nem seres humanos híbridos.
Saem monstros.
Não dá para fazer cócegas a monstros nem para alimentá-los a Flocos de Neve.
Conclusão?
Não há, era mesmo só isto.

Dia Mundial dos Elogios

Hoje, além de sexta-feira, é o dia de aniversário de Justin Bieber e - last but not least - o Dia Mundial dos Elogios.
São três desejos que se concretizam de uma só vez, daí as pessoas andarem por aí mais satisfeitas do que é costume. Também andam mais aprumadas, na esperança de receberem um elogio, claro.


Os entendidos dizem que dar um elogio transmite um sinal de apreciação e respeito e que receber um elogio faz bem à pele e reduz o colesterol mau. Isto quer dizer que todos ficamos a ganhar com este intercâmbio de louvores.
Um elogio é um miminho de palavras, por isso não vale oferecer flores nem garrafas de champanhe.
Eu pessoalmente prefiro miminhos de chocolate belga com recheio de avelã, mas aparentemente o chocolate não transmite apreciação nem respeito.
Por favor, elogiem-me. Careço de açúcar.