Quando o mais velho começou a falar, tomei nota das primeiras frases.
No início só dizia frases afirmativas: Está quente. É um menino. A mamã já vem.
Depois começou a aventurar-se na negação.
Não, dizia ele.
Não está. Não tem. Não cabe. Não quer. Não pode.
Muito se exprime com um não. Negação. Proibição. Rejeição. Ausência. Comparação. Exclusão.
Assim vamos conhecendo o mundo. Sabendo o que as coisas são e também o que não são. O que está e o que não está. O que tem e o que não tem. Porque isto não pertence àquilo. E isso aí não tem disto. No fundo, uma coisa não é outra coisa.
Ao longo de umas semanas fui compondo um texto com essas frases negativas. E esse texto, em vez de “não”, acabou por dizer “sim”, e foi parar ao Contraconto. É o episódio 37 e chama-se “A casa não tem céu”.
(Nota: Assino o texto na qualidade de encarregada de educação porque o autor destas frases ainda não sabe assinar.)
Música de Bruno Santos, locução de Eva Barros, produção de Catarina Sobral.