Aquele menino chinês tinha os olhos em bico. Tão em bico, tão em bico, que mais parecia que os trazia sempre fechados. Ninguém sabia dizer qual a cor dos seus olhos (nem mesmo a mãe) pois, tanto ao longe como ao perto, nada se via no meio das quatro pálpebras quase unidas além de uma pequena fresta sem brilho. "Abre bem os olhos", mandava a mãe, mas o menino chinês só os abria enquanto dormia. Pelo menos assim dizia a irmã mais velha, que acordara numa certa madrugada e vira os olhos do irmão muito abertos para a noite escura. Revelava com um tom grave à família: "São castanhos-mel como os do pai".
Numa manhã de Inverno, decidida a desvendar aquele mistério, a mãe anunciou que ia levar o menino ao médico estrangeiro. A família levou as mãos ao peito com o susto e foi despedir-se dos dois parentes à porta de casa. Mãe e filho caminharam quilómetros até à aldeia mais próxima, onde vivia o médico. Dizia-se do estrangeiro que era melhor que os curandeiros, que via o que era visível e invisível, que tinha olhos tão redondos que pareciam nunca respirar.
O médico estrangeiro apertou com força a mão da mãe, depois a do filho, aceitou o dinheiro, contou-o com destreza e mandou-os sentar. Com uma mão desajeitada abriu as pálpebras do menino e observou com um só olho o olho do paciente. Depois pegou na lupa e examinou com um olho enorme os pequenos olhos misteriosos. O menino parecia interessado no efeito da lupa porque, ao ver o olho gigante do médico estrangeiro, abriu um pouco mais os olhos. A mãe disse "Óóóóó" com a boca em forma de lua cheia. O menino agarrou na lupa e o médico deixou que ele brincasse com ela. Doutor e paciente trocaram então de papéis e o menino de olhos quase fechados examinou o médico através da lupa. De repente, como que por milagre, o olho do menino abriu-se completamente, tinha agora o tamanho de um ovo cozido e a cor era castanho-mel como dissera a irmã. "Tens olhos de Outono" dizia a mãe e o estrangeiro escreveu decidido num caderno. O menino voltou a semicerrar os olhos, a mãe abriu-os o mais que podia. O médico apoderou-se da lupa, arrumou-a, sorriu por dentro e por fora. Diagnosticou num chinês imperfeito: "Este menino precisa de óculos".
Numa manhã de Inverno, decidida a desvendar aquele mistério, a mãe anunciou que ia levar o menino ao médico estrangeiro. A família levou as mãos ao peito com o susto e foi despedir-se dos dois parentes à porta de casa. Mãe e filho caminharam quilómetros até à aldeia mais próxima, onde vivia o médico. Dizia-se do estrangeiro que era melhor que os curandeiros, que via o que era visível e invisível, que tinha olhos tão redondos que pareciam nunca respirar.
O médico estrangeiro apertou com força a mão da mãe, depois a do filho, aceitou o dinheiro, contou-o com destreza e mandou-os sentar. Com uma mão desajeitada abriu as pálpebras do menino e observou com um só olho o olho do paciente. Depois pegou na lupa e examinou com um olho enorme os pequenos olhos misteriosos. O menino parecia interessado no efeito da lupa porque, ao ver o olho gigante do médico estrangeiro, abriu um pouco mais os olhos. A mãe disse "Óóóóó" com a boca em forma de lua cheia. O menino agarrou na lupa e o médico deixou que ele brincasse com ela. Doutor e paciente trocaram então de papéis e o menino de olhos quase fechados examinou o médico através da lupa. De repente, como que por milagre, o olho do menino abriu-se completamente, tinha agora o tamanho de um ovo cozido e a cor era castanho-mel como dissera a irmã. "Tens olhos de Outono" dizia a mãe e o estrangeiro escreveu decidido num caderno. O menino voltou a semicerrar os olhos, a mãe abriu-os o mais que podia. O médico apoderou-se da lupa, arrumou-a, sorriu por dentro e por fora. Diagnosticou num chinês imperfeito: "Este menino precisa de óculos".