O professor de português, que era uma pessoa ponderada, profunda, progressista, pró-activa, mandou: "Escrevam uma composição sobre as várias fases da vida!" e os alunos escreveram. Nessa noite, o professor sentou-se contente à secretária para corrigir os trabalhos. Um dos rapazes, que era mau aluno, mau escritor, mal amado, malcriado, mau humor e mau-olhado, escreveu um texto com vários erros de pontuação. O professor abanava a cabeça enquanto lia. Pensou: "Este rapaz não respira enquanto escreve" e releu o texto para o corrigir:
"Há três fases da vida: a infância a adolescência e a vida adulta, a diferença entre elas prende-se com a forma como a felicidade é encarada, senão vejamos: as crianças dizem que estão felizes quando estão felizes e que estão tristes quando estão tristes para que os outros saibam como se sentem, os adolescentes dizem que estão tristes mesmo quando estão felizes porque acham que estão sempre tristes e os adultos dizem que estão felizes quando estão tristes e que estão tristes quando estão desesperados porque acham que controlam o que sentem e não querem que os outros o saibam, assim a fase mais feliz da vida é a infância porque as crianças sabem o que querem."
O professor concluiu: "Este rapaz põe vírgulas quando deve pôr pontos e não põe nada quando deve pôr vírgulas!". Levantou-se e foi à casa de banho. Por uma estranha associação de ideias, o professor lembrou-se do ponto de interrogação e fez várias perguntas aos seus botões. Depois desenhou mentalmente um ponto e vírgula e respirou fundo. Sentou-se à secretária, corrigiu o texto do mau aluno a vermelho e escreveu no final: "Atenção aos sinais de pontuação".
De seguida o professor fechou a caneta e ficou a olhar para ela alguns segundos. Pensou: "Abre um parêntesis" e, de repente, sem pré-aviso, começou a chorar convulsivamente como nunca chorara antes. O seu descontrolo era tal que chorou até adormecer de exaustão.
Acordou de madrugada com a cabeça em cima do mesmo texto, tinha os olhos inchados e a boca seca. Leu a frase a vermelho: "Atenção aos sinais de pontuação" e releu-a várias vezes. O professor não percebia o que lhe tinha acontecido e quis fingir que nada se tinha passado. Pensou: "Ponto final, parágrafo" e gritou enraivecido: "Fecha parêntesis, fecha parêntesis!". Dir-se-ia que o professor não conseguia controlar o que sentia.