Independentemente da hora a que acordasse, o engenheiro era sempre o último a chegar ao trabalho. Se acordava cedo, atrasava-se. Se acordava tarde, já era tarde. Se ia de carro, a sua fila era sempre a mais lenta. Se ia de autocarro, perdia-o (mesmo que corresse), sendo que o segundo tardava sempre em chegar. Praguejava: "Cabrão do Murphy!".
O engenheiro começava a fumar pelas 7 da manhã, assim que saía de casa. Quando chegava à paragem, esmigalhava a beata contra o chão. Se viesse cedo, ainda arriscava acender outro cigarro, mas o autocarro teimava em chegar depois do primeiro bafo. Conclusão: a sua manhã começava invariavelmente mal.
Até que, numa noite como as outras, antes de adormecer, o engenheiro disse de si para si: "Já sei!" e no dia seguinte acordou tarde, cantou no duche, comeu torradas com manteiga, beijou a mulher antes de sair de casa, assobiou pela rua.
Quando chegou à paragem disse entre dentes: "Toma, cabrão!" e acendeu um cigarro com o gesto perfeito das estrelas de cinema. Como previsto, depois do primeiro bafo, o autocarro chegou. O homem riu-se de felicidade. Afinal também havia maneira de contornar a lei de Murphy, o engenheiro sentia-se todo-poderoso. Começou a chuviscar, mas o homem não quis saber da água nos ombros (pela lógica, amanhã traria o chapéu-de-chuva e não haveria chuviscos). Pisou o cigarro recém-aceso e quando ia a entrar no autocarro, ouviu atrás de si: "Mas o que é isto?".
Era um agente da autoridade e o engenheiro olhou-o com respeito. "Sabe que pode ser multado por deitar coisas para o chão? Limpe lá as pontas dos cigarrinhos!". A porta do autocarro fechou-se antes de o homem entrar mas, mesmo assim, o engenheiro petrificou em frente à estrada e assim ficou durante cinco segundos, a sentir o peso da chuva nos ombros. O polícia esperou-o pacientemente. O engenheiro baixou-se e apanhou as duas beatas em silêncio. Praguejou para dentro: "Cabrão do Murphy!". Não havia recipientes do lixo ali perto, por isso o homem atravessou a rua, desceu até à rotunda e deitou as beatas num contentor verde.
Voltou para a paragem e o polícia felicitou-o pelo acto. Depois deu-lhe uma breve lição de cidadania. Não se contendo, o engenheiro declarou gravemente: "Vou fazer queixa de si!" e o outro riu-se indignado: "De mim? A quem? Aqui quem manda sou eu!". Desafiaram-se com um olhar afiado, afinado, afidalgado. O engenheiro tirou um bloco de notas do bolso da camisa. Depois tirou uma esferográfica barata, olhou-a com interesse, apertou-lhe a cabeça e a caneta fez clic-clic. Pediu com ar importante: "O seu nome, por favor" e na boca do outro explodiu uma gargalhada, tinha agora o queixo e o peito para fora.
O engenheiro começava a fumar pelas 7 da manhã, assim que saía de casa. Quando chegava à paragem, esmigalhava a beata contra o chão. Se viesse cedo, ainda arriscava acender outro cigarro, mas o autocarro teimava em chegar depois do primeiro bafo. Conclusão: a sua manhã começava invariavelmente mal.
Até que, numa noite como as outras, antes de adormecer, o engenheiro disse de si para si: "Já sei!" e no dia seguinte acordou tarde, cantou no duche, comeu torradas com manteiga, beijou a mulher antes de sair de casa, assobiou pela rua.
Quando chegou à paragem disse entre dentes: "Toma, cabrão!" e acendeu um cigarro com o gesto perfeito das estrelas de cinema. Como previsto, depois do primeiro bafo, o autocarro chegou. O homem riu-se de felicidade. Afinal também havia maneira de contornar a lei de Murphy, o engenheiro sentia-se todo-poderoso. Começou a chuviscar, mas o homem não quis saber da água nos ombros (pela lógica, amanhã traria o chapéu-de-chuva e não haveria chuviscos). Pisou o cigarro recém-aceso e quando ia a entrar no autocarro, ouviu atrás de si: "Mas o que é isto?".
Era um agente da autoridade e o engenheiro olhou-o com respeito. "Sabe que pode ser multado por deitar coisas para o chão? Limpe lá as pontas dos cigarrinhos!". A porta do autocarro fechou-se antes de o homem entrar mas, mesmo assim, o engenheiro petrificou em frente à estrada e assim ficou durante cinco segundos, a sentir o peso da chuva nos ombros. O polícia esperou-o pacientemente. O engenheiro baixou-se e apanhou as duas beatas em silêncio. Praguejou para dentro: "Cabrão do Murphy!". Não havia recipientes do lixo ali perto, por isso o homem atravessou a rua, desceu até à rotunda e deitou as beatas num contentor verde.
Voltou para a paragem e o polícia felicitou-o pelo acto. Depois deu-lhe uma breve lição de cidadania. Não se contendo, o engenheiro declarou gravemente: "Vou fazer queixa de si!" e o outro riu-se indignado: "De mim? A quem? Aqui quem manda sou eu!". Desafiaram-se com um olhar afiado, afinado, afidalgado. O engenheiro tirou um bloco de notas do bolso da camisa. Depois tirou uma esferográfica barata, olhou-a com interesse, apertou-lhe a cabeça e a caneta fez clic-clic. Pediu com ar importante: "O seu nome, por favor" e na boca do outro explodiu uma gargalhada, tinha agora o queixo e o peito para fora.
"Chamo-me Murphy!", disse o agente já recomposto, "Escreve-se com ph e tem um ípsilon no fim". O engenheiro petrificou outra vez e foi homem-pedra durante cinco segundos. Entretanto, ao fundo da rua, aparecia mais um autocarro mas nenhum dos homens deu por isso. O engenheiro escreveu demoradamente o nome do polícia enquanto este o soletrava. Desafiaram-se outra vez com os olhos. O homem viu o autocarro, quando este já estava parado à sua frente, mas não quis correr. Tinha medo do ridículo.
O polícia afastou-se devagar e atravessou a rua fora da passadeira. Gritou-lhe já do outro lado: "A minha lei é transcendente!". O autocarro partiu e o engenheiro petrificou outra vez em frente à estrada. E agora sim, chovia torrencialmente.