Um amigo disse ao amigo: "Epá, isto em Espanha deve estar um calor!" e o outro acrescentou: "Devíamos lá estar agora!". Os dois beberam da cerveja, daí o silêncio repentino. O primeiro amigo era mais demorado do que o outro, mais sôfrego, mais entusiasmado. Por ser melhor bebedor, tinha mais ideias e nesse segundo propôs: "Epá, podíamos fingir que íamos de férias! Só para chatear a malta. Tirávamos dias, fazíamos reservas, líamos guias. O pessoal ia ficar cheio de inveja!". O outro considerou a sugestão e olhou para o copo como quem procura respostas. Bebeu um gole demasiado curto e perguntou: "E depois íamos mesmo para Espanha?". O outro abriu os olhos atrás do copo, acenou com a cabeça, engoliu a cerveja à pressa. "Claro, íamos de sandália no pé e chapéus no cocuruto! E depois chegávamos lá e fingíamos mesmo que éramos turistas, só para chatear os trabalhadores da praia. Iam pensar: Olha, dois turistas contentes! e roíam-se de inveja." O outro ficou contemplativo, parecia gostar da ideia. Perguntou ainda: "E por que não vamos mesmo de férias para Espanha?". Houve um silêncio quase demorado, durante o qual nenhum dos dois bebeu da cerveja por acabar. Olharam-se surpreendidos, depois o menos bebedor sorriu e começaram os dois a rir muito alto. Foi um riso em simultâneo, escorregavam nas cadeiras com o peso das gargalhadas. Depois brindaram com lágrimas nos olhos, ainda riam enquanto bebiam, um engasgou-se, o outro não. Disse o melhor bebedor: "Que ideia tão estúpida!" e o outro desatou a rir outra vez.