Olha para mim, homem ousado, eu sou aquele oculto e grande Cabo a quem chamais vós outros Tormentório, sou o dono do promontório sobre o fim do mundo, o tal monstro negro do mar profundo, filho dos amores da Terra, todo eu sou fera e guerra e espera. Tu que temes o meu tacto e este corpo invertebrado, sentirás hoje as ventosas do meu abraço. Nesta noite escura sem estrelas nuas, lançarei um braço silencioso e caminharei réptil e tenebroso pela tua caravela. Escutarei o teu sono atrás da vela içada e, para meu consolo, pegar-te-ei ao colo. Três vezes enrolarei o meu braço à volta do teu peito, ó marinheiro, e levar-te-ei comigo para o leito do fim do mundo. Esta é a vingança do monstro ressuscitado, a dança das trevas, é o fim da bonança, da maré mansa, da boa esperança. A morte do mar português.