O teu corpo é um caos nesta noite de trevas, passeio pelos teus cabelos durante eternidades e tenho vertigens nesta espiral sem limite. Digo "Faça-se luz" e os teus caracóis são agora brancos, labirínticos, indecifráveis. Chamo-lhes Via Láctea e salto para o espaço. Os teus cabelos são para mim um céu sem nuvens e, ao regressar ao teu corpo magnético, chamo ao teu peito Terra e à tua boca Mar. Pouso os olhos nos teus olhos e vejo estrelas e astros, vejo a noite e o dia, chamo a um olho Lua e ao outro Sol. No centro da Terra sinto o pulsar da vida e nascem seres vivos do teu corpo. Abres as mãos e voam aves das tuas palmas. Dizes uma palavra e saltam peixes na tua boca. Andam anfíbios pelas tuas pernas e saem insectos das tuas orelhas. Do teu sexo nascem árvores de fruto e do teu peito o jardim do Éden. És tu o milagre da vida. Da costela nasce a costela, costas contra costas, somos anca contra anca, peito contra peito, uma só carne, somos o início de todas as coisas.