sexta-feira, 14 de dezembro de 2007

Na porta de embarque

Um passageiro lê um jornal. A senhora do lado não faz nada: está de mãos dadas com a bagagem de mão. Pergunta:
- Tem horas?
- Não se preocupe com as horas. Quando for, eles chamam.
- Estou muito nervosa, sabe?
- Com quê? Não gosta de andar de avião?
- Não, detesto! Mas também não tenho medo. É aquela coisa de voltar a casa!
- De voltar a casa? Pois, isso pode dar cabo dos nervos!
- Sim, mas é óptimo! São nervos bons! Adoro a minha casa, sabe?
- Portanto, a senhora volta agora para lá, é isso?
- Sim, o senhor não?
- Não, eu vou só.
- Aaaah, já não volta?
- Sim, claro! Depois volto para aqui. Mas agora vou.
- Pois, eu já vim para cá, mas agora volto para lá.
- Portanto, você mora lá.
- Não, eu moro aqui. E volto para lá agora.
- E já não vem para cá mais?
- Sim, claro! Depois vou para aqui. Mas agora volto.
- Então, se a senhora mora aqui, a volta é sempre neste sentido: de lá para cá.
- Não, não, eu moro aqui mas venho de lá, logo volto para lá.
- Mas a senhora está sempre aqui, portanto quando vai para lá, vai só.
- Não, eu volto sempre para lá!
- Repare: eu tenho casa aqui. Logo, se vou daqui para ali, vou só! E quando volto, volto para aqui.
- Mas eu tenho casa lá também. Aliás, comprei essa casa antes de vir para aqui. Logo, quando vou para lá, volto.
- Depende de qual das casas pensa ser a sua casa.
- São as duas!
- As duas? Então tanto dá, pode dizer que vai ou que volta.
- Justamente. E hoje apetece-me dizer que volto!
- Porquê?
- É uma questão de perspectiva.
- Você deve estar realmente nervosa.
- Sim, estou! É porque estou a voltar! Se fosse só ir, não custava nada!