Como se não bastasse, chovia. Torrencialmente.
E ele descia a rua cabisbaixo, trazia os ombros caídos como folhas em final de vida e por cima da cabeça um chapéu-de-chuva murcho, quase roto. Uma mulher apressada subia na sua direcção e ele, de vista curta por causa do chapéu muito negro em frente aos olhos, ia também direito a ela. Noutro dia qualquer ouviria os seus passos (saltos altos falando alto com o passeio), mas hoje não.
A mulher vira-o quase a tempo, desviara-se ainda uns bons centímetros, mas os chapéus-de-chuva bateram um no outro e inexplicavelmente, contra a vontade de um e de outro, contra a chuva e o vento, entrelaçaram-se. Ela puxou do seu chapéu determinada, mas nada parecia quebrar aquele abraço. Ele a querer descer a rua, ela a querer subi-la. Inspeccionaram os chapéus e descobriram que a vareta de um tinha rompido o pano do outro. Ele lançou a mão à vareta, ela ao pano, e tentavam sem êxito desfazer o nó complicado. Não falavam um com o outro, nem sequer se olhavam por estarem demasiado próximos.
Por cada um querer ir para seu lado, resolveram então puxar os chapéus à força. E tanto puxaram que a vareta cedeu e o pano caiu. Ficaram ambos à chuva, um de chapéu partido, outro de chapéu roto. Primeiro não disseram nada: estavam estupefactos com o acontecimento. Depois espantaram-se antes com a chuva e olharam um para o outro. Estavam ensopados.
Deitaram os chapéus no lixo e refugiaram-se debaixo de um telhado. Queixavam-se ambos do tempo. Inicialmente para introduzirem um tópico de conversa, depois para justificarem os males de todos os tempos. Queixaram-se tanto da chuva que a certa altura a culparam de todos os problemas, infortúnios e pecados. Uma hora depois continuavam debaixo daquele telhado e conversavam animadamente sobre os efeitos prejudiciais do tempo. Depois a chuva parou e eles fingiram ter de continuar caminho.
Despediram-se sem saberem se voltariam a ver-se. Choviam torrencialmente por dentro e culparam o tempo por isso. Era naturalmente a última gota naqueles corpos de água.
E ele descia a rua cabisbaixo, trazia os ombros caídos como folhas em final de vida e por cima da cabeça um chapéu-de-chuva murcho, quase roto. Uma mulher apressada subia na sua direcção e ele, de vista curta por causa do chapéu muito negro em frente aos olhos, ia também direito a ela. Noutro dia qualquer ouviria os seus passos (saltos altos falando alto com o passeio), mas hoje não.
A mulher vira-o quase a tempo, desviara-se ainda uns bons centímetros, mas os chapéus-de-chuva bateram um no outro e inexplicavelmente, contra a vontade de um e de outro, contra a chuva e o vento, entrelaçaram-se. Ela puxou do seu chapéu determinada, mas nada parecia quebrar aquele abraço. Ele a querer descer a rua, ela a querer subi-la. Inspeccionaram os chapéus e descobriram que a vareta de um tinha rompido o pano do outro. Ele lançou a mão à vareta, ela ao pano, e tentavam sem êxito desfazer o nó complicado. Não falavam um com o outro, nem sequer se olhavam por estarem demasiado próximos.
Por cada um querer ir para seu lado, resolveram então puxar os chapéus à força. E tanto puxaram que a vareta cedeu e o pano caiu. Ficaram ambos à chuva, um de chapéu partido, outro de chapéu roto. Primeiro não disseram nada: estavam estupefactos com o acontecimento. Depois espantaram-se antes com a chuva e olharam um para o outro. Estavam ensopados.
Deitaram os chapéus no lixo e refugiaram-se debaixo de um telhado. Queixavam-se ambos do tempo. Inicialmente para introduzirem um tópico de conversa, depois para justificarem os males de todos os tempos. Queixaram-se tanto da chuva que a certa altura a culparam de todos os problemas, infortúnios e pecados. Uma hora depois continuavam debaixo daquele telhado e conversavam animadamente sobre os efeitos prejudiciais do tempo. Depois a chuva parou e eles fingiram ter de continuar caminho.
Despediram-se sem saberem se voltariam a ver-se. Choviam torrencialmente por dentro e culparam o tempo por isso. Era naturalmente a última gota naqueles corpos de água.