Para a Marta.
Chegou a um sítio qualquer como aliás sempre chegava por estar sempre a ir ou a vir de outros sítios que não aquele onde morava e ao sentar-se pensou que gostaria de ficar sentada por um tempo suficiente quase próximo do eterno para que fosse possível descansar as pernas e os braços e os ombros e a cabeça e o tronco e nesse preciso momento levantou-se e pensou que o facto de andar de um lado para o outro sem nunca voltar era contra natura já que tinha um sonho dentro de si no qual era uma árvore afunilada como o pinheiro manso de todos os natais que alguém plantara numa só terra de onde não era possível sair por as raízes serem profundíssimas e então pensou como era bom estar num sítio bom com bom tempo e todo aquele tempo quase próximo do eterno e lembrou-se de repente daquele lugar bom onde alguém lhe dava água para que os seus braços crescessem e as suas folhas não morressem e disse a si própria que as suas raízes tinham ficado nesse sítio onde era sempre possível voltar e por isso chamou àquela mão que lhe dava água amizade e apelidou a sua sede de saudade e decidiu partir não para outro sítio que não aquele onde morava mas sim para o lugar onde nascera o pinheiro manso de todos os seus natais