"Cheira-me a Verão", anunciou contente com o nariz bem içado e os bigodes direitos, de pontas levantadas. Ao dizê-lo, crescia-lhe água na boca, como se o Verão tivesse sabor. Saiu de casa de rompante, vinha em bicos dos pés para o nariz chegar mais longe e, ao abrir a porta da rua, viu o sol inteiro, triunfando no céu sem nuvens, amarelo como nos sonhos. A água que trazia na boca escorria agora pelas esquinas dos lábios até ao chão. Havia uma árvore enorme à frente da casa e ele trepou-a agilmente até ao topo. No último ramo estava finalmente em frente ao sol e a água que escorria da boca secava agora nos lábios. Empoleirou-se e esticou os braços, mergulhando as mãos no sol. Encantado, levou as mãos à boca e provou o sol amanteigado. Lambeu primeiro o polegar da mão direita, depois o dedo indicador, depois todos os outros. Passou rapidamente para a mão esquerda e lambeu-a sofregamente. A seguir, ainda insatisfeito, saltou de cabeça para dentro do sol e ficou a nadar na sua via láctea durante horas. O rato acordou de repente com a luz da manhã e sorriu para o sol. Levantou-se prontamente e olhou em seu redor até avistar, no final do horizonte, um prédio enorme, da altura do sol. Orgulhou-se da sua esperteza e fez-se sozinho à estrada. Não queria partilhar o seu queijo com ninguém.