Naquela manhã, ao sentar-me ao balcão do café para o café da manhã, comentei para o senhor do lado: "Não sabia que chovia em Julho". "Não se pode saber tudo", respondeu-me o homem, atravessando-me com um olhar oblíquo que descia brutal do céu contra os meus pés. O senhor do lado sabia certamente tudo ou tinha a pretensão disso, de outra maneira teria falado sobre o tempo e não sobre a limitação dos homens. As pessoas pura e simplesmente não falam sobre evidências ou, pelo menos, têm a pretensão disso. Resolvi perdoar a frase infeliz ao senhor infeliz, a verdade é que as pessoas dizem coisas só para não estarem caladas. Nesse preciso momento, o senhor levantou os olhos do café e disse: "Às vezes mais valia estar calado" e eu, surpreendido com o comentário, apressei-me a engolir o pastel de nata para lhe perguntar: "Ó homem, você lê pensamentos?". O senhor do lado sorriu um sorriso amargo, amarelo, de cafeína matinal, depois endireitou-se para dar espaço ao riso que vinha de dentro, a certa altura curvou-se sobre si próprio com o peso das gargalhadas, os olhos fechavam-se bruscamente em esforço, o seu rosto era agora vermelho, há vários segundos que não respirava. Passados dois minutos, não mais do que isto, recompôs-se e limpou as lágrimas vagarosamente, libertando os últimos suspiros de riso. Fiquei a olhá-lo com estranheza e resolvi confessar assustado: "Bolas, pensei que ainda se ficava!". O senhor do lado levantou-se devagar e, enquanto pousava duas moedas no balcão, olhou-me com o mesmo olhar oblíquo e disse, em tom de despedida: "Vocês, os comuns mortais, preocupam-se com cada coisa".