Diz-se que a menina é rouca, tem uma distorção nas cordas vocais, é um grande desgosto, desgostou a velha, a terapeuta da fala fá-la falar mas do que a menina gosta é de cantar, daí a sua boca em forma de bico esquisito como as dos passarinhos pequeninos e os braços quase asas bem puxados para trás. Mas a sua cantilena dá pena, mete dó, diz a avó encolhendo os ombros como quem encerra o caso e dá um abraço à cantadeira. A menina abana a cabeça com a destreza dos pombos do Rossio e logo faz pio e começa a cantar. Vêm de dentro sons guturais, grotescos, têm forma de grutas, metem medo. Estamos nisto e chega o Evaristo cantor. "Menina", chamou, "precisas de ajuda para o teu cantar" e nisto o Evaristo estende-lhe uma flauta e a menina começa a tocar. Tocou primeiro um sol e depois um dó e já não metia dó o cantar da menina.