No cinzento de Bruxelas há sempre uma nuvem mais escura do que as outras, uma nuvem mais condensada do que as outras e, por isso, mais chorosa. As outras nuvens dizem-lhe "Não chovas agora que ainda não é hora", mas a nuvem encolhe-se sobre si própria com as lágrimas na ponta dos olhos, à beira de um ataque de choro. Era uma nuvem, por assim dizer, mais sensível do que as outras e tinha o hábito de chover por motivos estranhos. Uma vez chorou uma intensa carga de água por causa do sol! Desculpou-se às outras nuvens dizendo que o sol lhe magoava os olhos, mas a verdade era que a nuvem mais escura do que as outras se emocionava com a luz. E hoje alguém lhe disse: "Gosto das lágrimas que trazes por dentro" e ela condensou-se mais um pouco, estava agora em estado quase líquido, era uma nuvem quase água. A nuvem mais clara (ou seja, a mais esclarecida e, portanto, possivelmente a mais velha) perguntou-lhe "Fizeram-te mal?" e a nuvem em estado quase líquido soluçou baixinho: "Não, fizeram-me um elogio!". "Então fizeram-te bem!" concluiu a nuvem mais clara "e o Bem liberta-te". A nuvem mais escura acenou com a cabeça. "Pois, eu sei! É por isso que preciso de chover!".