Peço-te: anda cair comigo na toca do coelho enquanto a tarde cai. A queda parece-me mais bonita do que o voo por ser mais leve. Contamos até três em uníssono e atiramo-nos ao mesmo tempo (bem sei que não preciso de apertar o nariz, mas foi assim que me ensinaram a mergulhar). Olha para mim agora, os meus cabelos enrolam-se numa trança incompreensível, ficarão assim para sempre, jamais os poderei separar. Vamos brincar às cambalhotas ou boiar no vazio, podemos até virar a cabeça para baixo, juntar os pés, os ombros, os rostos, rodar sobre nós próprios, desenhar espirais infinitas ao som de gritos inaudíveis. Temos todo o tempo do mundo para darmos as mãos nesta toca sem fundo, não há um fim para este final de tarde. Os outros que fiquem com o tempo e o espaço, nós não precisamos disso.