terça-feira, 10 de julho de 2007

Heitor, o explorador

Numa madrugada de Agosto, o pescador Heitor fez-se explorador e atirou-se ao mar numa jangada de madeira. No primeiro dia, remou contente com a corrente e, na primeira noite, adormeceu profundamente. Na manhã seguinte, acordou num sobressalto com o primeiro raio de luz. "Ai Jesus", assustou-se Heitor, pois o sobressalto era afinal um salto que vinha do chão e ia bem alto. E então, ao espreitar o seu reflexo na água, descobriu que era rã. Heitor, outrora pescador, depois explorador e agora anfíbio, chorou toda a manhã o seu corpo de rã. Mas, pela tarde, disse num tom grave: "Eu conheço esta história!" e logo declarou vitória sobre o feitiço. Só um beijo libertaria Heitor, e o explorador, agora anfíbio, ficou à espera de ver alguém no além-mar. Mas não havia quem andasse por ali a pescar nem a explorar, não havia peixes a nadar nem gaivotas a voar. Heitor esperou, desesperou, cansou, descansou, dormiu, acordou, chorou, chorou.
Mas, no sétimo dia, apareceu finalmente uma mosca. A rã disse-lhe "Ó mosca, eu era pescador e depois explorador e, de repente, acordei uma manhã e era rã! Se me deres um beijo, quebrarás o feitiço!". A mosca fez-se rogada, não era nenhuma beijoqueira ao serviço de feitiços, mas teve pena do anfíbio sozinho na jangada de madeira. "Pois bem, marinheiro, aqui vou eu para te dar um beijo!". Heitor deu um salto bem alto e gritou de alegria em contrabaixo. Enquanto a mosca voava até si, disse a rã de si para si: "Eu estou apaixonado pela mosca, pois só o verdadeiro amor quebrará o feitiço". Fechou os olhos com força e concentrou-se no seu amor. Mas no momento do beijo, em vez dos lábios, a rã ofereceu a língua, engolindo o insecto de seguida. A natureza assim o quis: não se pode enganar a fome. E o pobre Heitor chorou infeliz a sua sorte.