Um parque que não é bem um parque, que talvez tenha sido um parque porque há restos de árvores e bancos de jardim. Do céu cai agora mesmo o resto de uma chuva que não chega a molhar o chão. Um homem antigo caminha pela lama que já foi relva mas não vê nada disto: o parque, os bancos, o resto da chuva. É um homem magro, macilento, comprido, parece o tronco velho de uma árvore moribunda. Traz no alto da cabeça um emaranhado de cabelos que já não são bem cabelos, que talvez tenham sido cabelos, mas que agora são ervas daninhas ou o ninho abandonado de pássaros cruéis, um cabelo feito de caruma e lama e folhas pisadas de Inverno sujo. Aproxima-se cada vez mais do nosso banco de jardim e os seus olhos não olham para nós, têm outras coisas dentro. Olhos cheios de nuvens e água, uma luz que não passa. Olhos que olham para dentro.
Ficamos a observá-lo.
Ficamos a observá-lo.
É impossível que este homem veja para fora. Talvez não veja de todo para fora e, nesse caso, não saiba que os seus braços são dois ramos vazios sem folhas nem flores nem frutos, só duas mãos que descobrem os dias, extremas e alvacentas como dois sóis de Inverno.
Passa pelo nosso banco de jardim, mas não nos vê ali, vive para dentro, a olhar para outro céu, numa outra Terra, sozinho, perdido, talvez feliz.