O meu joelho direito passa a vida a queixar-se. Nunca está contente com o tempo nem com as pessoas, resmunga muito por isto e por aquilo, parece um daqueles homens muito velhos e doentes que estão sempre a lembrar os mais novos que também eles um dia serão muito velhos e doentes.
Eu nunca liguei muito às queixas do meu joelho direito, mas ouvia-as com um dos meus ouvidos e sabia bem do seu mal.
Certo dia (na passada terça-feira, 20 de Setembro), passei o dia e a noite num hospital com tectos baixos e pessoas espadaúdas que vestiam toucas ridículas. Depois de uma breve história que envolveu personagens como a Enfermeira de Branco, o Médico, a Anestesia Geral, o Soro Fisiológico e a Arrastadeira, o meu joelho direito é agora outro: tem três furos no rosto e o dobro do tamanho.
O Médico diz que o meu joelho direito nasceu muito torto e que agora se pôs direito, como um homem bom. (Uma espécie de final feliz.)
Vim para a casa com um joelho direito desconhecido, escondido atrás de um curativo e de um saco de gelo. Já não lhe ouço as queixas de homem velho e doente, porque o meu joelho direito deixou de falar, calou-se para sempre; está para aqui deitado, túrgido e arroxeado como um recém-nascido.
Não gosto muito dos três furinhos.
E sinto-me só.
Saudades do meu homem muito velho e doente.