terça-feira, 4 de outubro de 2011

Fisioterapia

Vou à fisioterapia quatro vezes por semana.
Gosto de ir à fisioterapia, sempre tenho uma desculpa para sair de casa com a minha tala no joelho e as minhas canadianas nos cotovelos.
O meu fisioterapeuta é muito simpático, tem uma carequinha no cocuruto e sabe dizer umas coisas em português porque teve uma paciente portuguesa durante muito tempo. Diz-me: Boa tarde, Até quarta-feira, dobra a perna, e depois ri-se muito, como se o conjunto de sons não fizesse sentido nenhum.
Quem me liga à máquina dos choquezinhos eléctricos é a estagiária, que não se ri nem diz muitas coisas, liga-me só à máquina e dá instruções breves. Fico para ali abandonada, a esticar a perna e a levar choquezinhos eléctricos, diz que faz bem aos músculos.
O outro fisioterapeuta, que é desgrenhado, esbugalhado mas, ainda assim, bem parecido, corrige-me ao longe, diz: Tenta esticar mais, insiste um pouco, dobra agora devagar. Eu faço o que me mandam: estico, insisto, dobro.
Um dos exercícios consiste em brincar com uma bola de ténis. Estou sentadinha e eles põem-me uma bola de ténis por baixo do pé. Não é muito divertido, mas dá para passar o tempo. Ando com a bola para a frente e para trás, já dobro o joelho a 90º e o fisioterapeuta exclama qualquer coisa com um ar muito impressionado como se faz às crianças. Fico a ver o que os outros fazem.
À minha frente, um tipo pedala na bicicleta. À medida que pedala também abana a cabeça ao som do rock foleiro que passa na rádio. Abanar a cabeça ao som de guitarras está tão fora de moda, que o tipo até tem piada. Ao lado, um rapaz de barba rala com ar muito preocupado salta no trampolim. À minha direita, uma búlgara que não fala francês enrola um tecido plastificado à volta do pé e puxa-o com toda a força. Foi operada ao tornozelo em Agosto e ainda cá anda. Ao fundo, em frente a um espelho de quarto de dormir, um homem gordo segura uma vara com as duas mãos e mantém-na paralela ao chão. Roda o corpo para um lado e para o outro, muito sério. Do lado de cá, uma senhora está literalmente de cabeça para baixo, pendurada num engenho esquisito que lhe estica as costas. A senhora não gosta lá muito daquela máquina, porque às vezes tem tonturas quando sai daquela posição e fica muito tempo sentada a recuperar. Acho que é italiana.
Eu gosto de ir à fisioterapia. Parece que mudo de planeta durante uma hora e meia e sempre tenho um objectivo nesta fase de convalescença.
O meu objectivo é saltar no trampolim.
O rapaz de barba rala e com ar preocupado está quase bom. E eu já ando farta de brincar com a bola de ténis.
Não sou nenhuma gata.