Saiu de casa para comprar um postal. Disse: "Vou comprar um postal" e foi. Abriu a porta, saiu, fechou-a, pôs-se a caminho.
Do quiosque. Dos jornais. Da rua.
Qualquer coisa o fascina no quiosque. Várias coisas. Todas as coisas. Não, afinal são só três.
A primeira é a porta. Um pedaço de madeira e vidro, muito leve, muito branco. Quando se abre ou fecha, toca um sino. Ou dois. Não dá bem para perceber. O som é parecido com os badalos que se ouvem no monte: com os chocalhos das vacas, das ovelhas, das cabras (e não com os sinos das igrejas).
A segunda (que não é coisa, mas sim pessoa) é a senhora. Aquela senhora. A do quiosque. Olha para a porta sempre que o sino toca. Para ver quem entra, quem sai, quem fica. Está sempre à caixa. Uma senhora amável. Que se pode amar. Que se ama. O homem que quer comprar um postal desconfia que os cabelos da senhora do quiosque da rua cheiram a tinta de impressão, que o seu rosto é de papel ou esferovite e não de carne e osso. Frágil. Tem óculos quadrados e neles se espelham todas as letras de todos os jornais.
A terceira coisa que o fascina é o próprio papel. Os sentidos segundo o papel. O cheiro do papel, a textura, os dedos, a voz, o peso. Papel mate, papel couchê, papel bouffant, papel de jornal, a arte de ser papel. Por agora, esquece-se desta paixão pelo papel. Tem outra: quer comprar um postal.
Foi até ao fundo do quiosque. Onde está a secção de postais. São muitos. Imensos. Demasiados. Uns dizem coisas, outros só uma palavra, outros nada de nada. Há postais de tudo. Aniversário, casamento, nascimento, baptizado, Natal, Páscoa. Postais para dizer que se ama. Para desejar as melhoras. Para pedir desculpa. O homem inquieta-se, confunde-se. Fica duas horas a ver postais. Uma decisão difícil. No final, escolheu um postal que não dizia nada: na frente tem uma azinheira no meio de um prado. No verso nada.
Do quiosque. Dos jornais. Da rua.
Qualquer coisa o fascina no quiosque. Várias coisas. Todas as coisas. Não, afinal são só três.
A primeira é a porta. Um pedaço de madeira e vidro, muito leve, muito branco. Quando se abre ou fecha, toca um sino. Ou dois. Não dá bem para perceber. O som é parecido com os badalos que se ouvem no monte: com os chocalhos das vacas, das ovelhas, das cabras (e não com os sinos das igrejas).
A segunda (que não é coisa, mas sim pessoa) é a senhora. Aquela senhora. A do quiosque. Olha para a porta sempre que o sino toca. Para ver quem entra, quem sai, quem fica. Está sempre à caixa. Uma senhora amável. Que se pode amar. Que se ama. O homem que quer comprar um postal desconfia que os cabelos da senhora do quiosque da rua cheiram a tinta de impressão, que o seu rosto é de papel ou esferovite e não de carne e osso. Frágil. Tem óculos quadrados e neles se espelham todas as letras de todos os jornais.
A terceira coisa que o fascina é o próprio papel. Os sentidos segundo o papel. O cheiro do papel, a textura, os dedos, a voz, o peso. Papel mate, papel couchê, papel bouffant, papel de jornal, a arte de ser papel. Por agora, esquece-se desta paixão pelo papel. Tem outra: quer comprar um postal.
Foi até ao fundo do quiosque. Onde está a secção de postais. São muitos. Imensos. Demasiados. Uns dizem coisas, outros só uma palavra, outros nada de nada. Há postais de tudo. Aniversário, casamento, nascimento, baptizado, Natal, Páscoa. Postais para dizer que se ama. Para desejar as melhoras. Para pedir desculpa. O homem inquieta-se, confunde-se. Fica duas horas a ver postais. Uma decisão difícil. No final, escolheu um postal que não dizia nada: na frente tem uma azinheira no meio de um prado. No verso nada.
O homem que queria um postal já tinha o postal. Estava contente. Foi pagar. A senhora de papel recebe-o ao balcão. Diz:
- Escolheu um postal bonito.
- Gosta?
- Gosto.
- Estava ali um bocado indeciso, sabe?
- Sei, pois! Ficou duas horas a ver postais!
- Verdade?!
- Verdade. É tudo?
- Não. Queria também um selo, por favor.
- Correio nacional?
- Sim.
- Normal?
- Não. Correio azul, por favor.
- Para chegar mais rápido, estou a ver.
- Sim, o mais rápido possível.
O homem pagou. Guardou o selo na carteira, fechou a carteira, devolveu-a ao bolso. Já estava a preparar-se para sair, quando reparou no seguinte: ao lado da caixa registadora havia um pequeno mostrador com cartões de visita. Do quiosque. Era um cartão muito simples em fundo branco. O homem tirou um.
- Escolheu um postal bonito.
- Gosta?
- Gosto.
- Estava ali um bocado indeciso, sabe?
- Sei, pois! Ficou duas horas a ver postais!
- Verdade?!
- Verdade. É tudo?
- Não. Queria também um selo, por favor.
- Correio nacional?
- Sim.
- Normal?
- Não. Correio azul, por favor.
- Para chegar mais rápido, estou a ver.
- Sim, o mais rápido possível.
O homem pagou. Guardou o selo na carteira, fechou a carteira, devolveu-a ao bolso. Já estava a preparar-se para sair, quando reparou no seguinte: ao lado da caixa registadora havia um pequeno mostrador com cartões de visita. Do quiosque. Era um cartão muito simples em fundo branco. O homem tirou um.
Assim já tinha o endereço. Com código postal e tudo.