O Senhor Adelino casou aos 30. Tinha uma casa, dois filhos, dois automóveis, um cão, um gato, um periquito. Divorciou-se aos 50. A ex-mulher ficou com os filhos, o gato e o periquito. Venderam-se a casa e os automóveis. O Senhor Adelino ficou com o cão. Depois de tudo isto reformou-se. Era novo. O cão morreu no ano seguinte. Abatido.
O Senhor Adelino resolveu então comprar uma planta. Parecia-lhe uma forma de vida fantástica: o silêncio profundo, o segredo alquímico da fotossíntese, a natureza completa no toque fibroso das folhas, a simplicidade da vida. Anunciou para as paredes: Vou comprar uma planta.
A florista da rua tinha orquídeas na montra. O Senhor Adelino considerava-as exuberantes. Uma questão de gosto. Não queria flores, queria uma planta. Verde. Só verde.
Entrou na loja. A florista tinha cara de flor: o rosto muito redondo, o cabelo aos caracóis, volumosos como pétalas. O Senhor Adelino disse: Queria uma planta. Verde. Só verde. A florista olhou-o em silêncio, de cabeça um pouco pendurada para a frente, igual às flores.
No fundo da loja havia uma planta verde, de caule longo e folhas largas, cheias de saúde. O Senhor Adelino apontou. Levo aquela.
A florista baptizou-a com um qualquer nome latino, trouxe-a para o balcão. Tratava-se de uma palmeira de interior. Origem mexicana. O Senhor Adelino achou aquele exotismo interessante.
A florista deu conselhos.
Era uma planta cheia de vitalidade. Muita água. Muita luz. O caule crescia tanto que era preciso mudar de vaso daqui a algumas semanas. Também falou da qualidade da terra. Da quantidade de luz e de sombra. Dos cuidados a ter no Inverno. Dos cuidados a ter no Verão.
O Senhor Adelino decidiu não levar a planta verde. Desculpou-se: Sou incompetente. A florista calou-se. Repetiu: Sou incompetente. A florista pendurou um pouco mais a cabeça. Acrescentou: Para cuidar da vida. Da vida dos outros. Para cuidar da vida em geral.
O Senhor Adelino resolveu então comprar uma planta. Parecia-lhe uma forma de vida fantástica: o silêncio profundo, o segredo alquímico da fotossíntese, a natureza completa no toque fibroso das folhas, a simplicidade da vida. Anunciou para as paredes: Vou comprar uma planta.
A florista da rua tinha orquídeas na montra. O Senhor Adelino considerava-as exuberantes. Uma questão de gosto. Não queria flores, queria uma planta. Verde. Só verde.
Entrou na loja. A florista tinha cara de flor: o rosto muito redondo, o cabelo aos caracóis, volumosos como pétalas. O Senhor Adelino disse: Queria uma planta. Verde. Só verde. A florista olhou-o em silêncio, de cabeça um pouco pendurada para a frente, igual às flores.
No fundo da loja havia uma planta verde, de caule longo e folhas largas, cheias de saúde. O Senhor Adelino apontou. Levo aquela.
A florista baptizou-a com um qualquer nome latino, trouxe-a para o balcão. Tratava-se de uma palmeira de interior. Origem mexicana. O Senhor Adelino achou aquele exotismo interessante.
A florista deu conselhos.
Era uma planta cheia de vitalidade. Muita água. Muita luz. O caule crescia tanto que era preciso mudar de vaso daqui a algumas semanas. Também falou da qualidade da terra. Da quantidade de luz e de sombra. Dos cuidados a ter no Inverno. Dos cuidados a ter no Verão.
O Senhor Adelino decidiu não levar a planta verde. Desculpou-se: Sou incompetente. A florista calou-se. Repetiu: Sou incompetente. A florista pendurou um pouco mais a cabeça. Acrescentou: Para cuidar da vida. Da vida dos outros. Para cuidar da vida em geral.
Voltou para casa. Muita água. Muita luz, muita sombra. O Senhor Adelino bebeu um litro de água e plantou-se no sofá. Se criasse raízes, talvez os seus braços crescessem e nascessem outras mãos, outros braços. Assim talvez as coisas se tornassem mais alcançáveis. O tecto, por exemplo. As nuvens. A vida.
O Senhor Adelino resolveu então comprar um escadote.
Na cozinha havia um espaço entre o frigorífico e o armário. Arrumaria aí o escadote. O Senhor Adelino sentia-se menos incompetente. Anunciou para as paredes: Vou comprar um escadote.
Já dava para chegar ao tecto.
O Senhor Adelino resolveu então comprar um escadote.
Na cozinha havia um espaço entre o frigorífico e o armário. Arrumaria aí o escadote. O Senhor Adelino sentia-se menos incompetente. Anunciou para as paredes: Vou comprar um escadote.
Já dava para chegar ao tecto.