Uma manhã igual a outras, um pouco mais tímida, mais jovem, mais ingénua. O rapaz dos óculos saiu do metro e começou a subir a Rue de la Loi. De repente, estava ele a seguir com o olhar os carros que vinham do sentido oposto e deixou de ver. O rapaz parou. Esperou. Continuou a andar pela rua, de pés inseguros, seguindo o compasso apressado das pessoas. O rapaz tirou os óculos. Tentou ver e não via. Limpou os óculos com a ponta da camisola. Voltou a equilibrá-los na ponta do nariz. Continuava sem ver. O rapaz estendeu então os braços, tocava nas pessoas fugidias, rodopiava em plena rua. Gritou: Estou cego!
Mas não estava, claro.
O oftalmologista quase diagnoticou um daltonismo estranho, qualquer coisa a ver com o cinzento. Mas depois lá percebeu que se tratava de uma coisa de pele. Mandou-o ao dermatologista. Este também não percebeu a causa daquela cegueira momentânea. Mandou-o para o psicólogo.
Consta que o rapaz dos óculos tinha uma alergia ao nevoeiro.
Mas não estava, claro.
O oftalmologista quase diagnoticou um daltonismo estranho, qualquer coisa a ver com o cinzento. Mas depois lá percebeu que se tratava de uma coisa de pele. Mandou-o ao dermatologista. Este também não percebeu a causa daquela cegueira momentânea. Mandou-o para o psicólogo.
Consta que o rapaz dos óculos tinha uma alergia ao nevoeiro.