O homem sobe a rua. De um lado, vivendas atrás de grades. Do outro também. Atravessa a rua mais ou menos a meio. Do lado de lá de um gradeamento, um cão ladra. O homem assusta-se, pula para trás. O cão pula também, mas para a frente, contra o gradeamento. Ladra. Homem e cão não se vêem. O primeiro adivinha espuma no focinho do outro e este fareja-lhe o medo. Ladra outra vez.
O homem insulta: Cabrão!. Depois recompõe-se, ajeita o casaco, faz-se ao caminho. Insulta ainda: Cabrãozão!. O outro fica encurralado na esquina. Ladra.
O homem não gosta de cães. Nem percebe pessoas que gostem de cães. O cão, por seu turno, não percebe cães que gostem de pessoas.
Passam a vida a ladrar!, diz o homem sobre os cães.
O cão diz o mesmo sobre os homens.
Ambos tinham razão.
O homem não gosta de cães. Nem percebe pessoas que gostem de cães. O cão, por seu turno, não percebe cães que gostem de pessoas.
Passam a vida a ladrar!, diz o homem sobre os cães.
O cão diz o mesmo sobre os homens.
Ambos tinham razão.