Para a casa, que faz hoje 1 ano e 3 dias.
As paredes eram tortas e tinham umbigos até ao final do corpo.
Entrava-se por um arco-íris e no parapeito da janela cresciam raízes de outras casas. Davam flores e frutos. Oxigénio. Vida.
Na cozinha andava pendurado um sonho de azulejos a espelhar um sol diferente. Aí se refogavam os dias, cheios de cores e formas, sem receitas.
Certo dia, quando decidiram construir o telhado, o homem ilimitado desenhou um algeroz serpenteado para os proteger das chuvas, das inundações. Do dilúvio.
Tudo isto a inspirava: o arco-íris, a janela, o algeroz. O homem ilimitado.
De resto, durante a noite, a casa enterrava-se devagar no chão como as raízes. E rangia os dentes.
Era orgânica. Gaudiana. Imperfeita.
Igual à vida.