Aquela rapariga lambe os dez dedos das mãos. Está sentada sozinha numa mesa de quatro e come uma salada agressiva, cheia de pormenores coloridos. Tem um garfo numa das mãos e na outra três anéis. Espeta o garfo na salada e encosta-o aos dedos da mão dos três anéis, que ajudam a dobrar a folha de alface. Olha só para o prato enquanto come e é agora que lambe os dez dedos. Um a um e sempre o mindinho primeiro (só depois os outros, por ordem de chegada). De vez em quando não lambe mas chupa. Faz imenso barulho, mas mal se ouve porque a música do bar toca mais alto.
Interesso-me pela rapariga que lambe os dez dedos das mãos.
Interesso-me pela rapariga que lambe os dez dedos das mãos.
No final da refeição rápida lambe apenas quatro dedos: os dois polegares, um dos indicadores e um mindinho. É rápida com a língua e com as mãos. Limpa depois a saliva dos dedos nas calças de ganga, puxa uma mala inquieta e tira do seu interior um pacote de tabaco de enrolar e uma bolsa velha, que tem na frente um arco-íris estranho de loja marroquina. Da bolsa emerge uma pequeníssima caixa de cartolina e, de dentro da caixa, uma folha de papel muito frágil. Deita tabaco para cima da folha, enrola-a com ambas as mãos, lambe uma das margens e, quase por magia, nasce um cigarro. A rapariga tem um esboço de sorriso no rosto, lambe novamente o papel, depois um dos dedos, mete o cigarro na boca, roda-o com a língua, acende e fuma.
Entretanto começa a roer as unhas de ambas as mãos, passa o cigarro de um dedo para outro. Quando a beata deixa de minguar, a rapariga apaga o cigarro com força, esmaga-o no cinzeiro. E de repente, acontece algo verdadeiramente imprevisível: para meu grande espanto, a rapariga lambe a palma da mão inteira. Explico: põe a língua de fora, estica-a para os lados exibindo-a em toda a sua amplitude e lambe a mão dos três anéis, que ergue alta e muito aberta.
Entretanto começa a roer as unhas de ambas as mãos, passa o cigarro de um dedo para outro. Quando a beata deixa de minguar, a rapariga apaga o cigarro com força, esmaga-o no cinzeiro. E de repente, acontece algo verdadeiramente imprevisível: para meu grande espanto, a rapariga lambe a palma da mão inteira. Explico: põe a língua de fora, estica-a para os lados exibindo-a em toda a sua amplitude e lambe a mão dos três anéis, que ergue alta e muito aberta.
Descontrolo-me com aquela visão. Levanto-me sobressaltada, dirijo-me à rapariga: "O que é que está a fazer?". Ela olha-me de lado, quase indignada. Responde: "Estou a lavar-me!" e dobra-se sobre si mesma para lamber o seu próprio lombo.
Era evidentemente a primeira mulher-gata que eu conhecia. Uma mulher fantástica e uma gata extremamente limpa, as duas numa só. A partir desse dia invejei a rapariga que lambia os dez dedos das mãos. Por ela me fazer sentir realmente incompleta.