Duas pessoas estão lado a lado numa igreja. Não se conhecem. Um senhor e uma senhora: ele com gabardina de trabalhador independente, ela com coluna vertebral igual à das beatas. Olham para cima procurando a luz que desce do céu (não porque estejam a rezar mas porque contemplam os vitrais de uma janela). A senhora fala primeiro.
- Desculpe, está a rezar?
- Não, estou só a olhar.
- Então posso falar consigo!
- Por acaso, não. Falar interrompe o olhar, sabe?
- Ah, que bela frase. É da Bíblia?
- Não, acho que é minha, mas não tenho a certeza.
- Se calhar é mesmo da Bíblia.
- Se calhar.
(Silêncio.)
- O senhor gosta destes vitrais.
- Sim, gosto.
- Eu também. Parece que Deus desce do céu pela janela, não é assim?
- Não, não desce.
- Não desce?
- Não, Ele está no meio de nós.
- É verdade! O menino é padre?
- Não, sou arquitecto.
- Mas conhece bem a Bíblia.
- Não, nunca a li.
- Então vem muito à missa.
- Não, nunca vou à missa.
- Mas isso é pecado.
- Se calhar. Mas eu não sou crente, sabe?
- Não é crente? Então o que está a fazer nesta igreja?
- A ver os vitrais!
- Mas só vai à igreja quem quer rezar.
- Ora essa! Não posso ir à igreja só ver os vitrais?
- Não!
- Bom, a senhora também não está a rezar.
- Mas vou começar agora! Vou rezar por si, para que veja a luz.
- E se eu não vir a luz?
- Foi porque Deus desistiu de si.
- Desistiu de mim? Mas isso é pecado!
(Silêncio. Agora é ele que fala primeiro.)
- Vou-me embora.
- Faz muito bem. E só volte se for para rezar.
- Está bem! Entretanto vou ali acender uma vela por si.
- Mas você não acredita!
- Em Deus não, mas tenho muita fé em si!
- E por que quer acender uma vela por mim?
- Para que você veja a luz.
- Mas eu já vi a luz, você é que não!
- Para mim, foi você que não viu. É tudo uma questão de fé!
- Desculpe, está a rezar?
- Não, estou só a olhar.
- Então posso falar consigo!
- Por acaso, não. Falar interrompe o olhar, sabe?
- Ah, que bela frase. É da Bíblia?
- Não, acho que é minha, mas não tenho a certeza.
- Se calhar é mesmo da Bíblia.
- Se calhar.
(Silêncio.)
- O senhor gosta destes vitrais.
- Sim, gosto.
- Eu também. Parece que Deus desce do céu pela janela, não é assim?
- Não, não desce.
- Não desce?
- Não, Ele está no meio de nós.
- É verdade! O menino é padre?
- Não, sou arquitecto.
- Mas conhece bem a Bíblia.
- Não, nunca a li.
- Então vem muito à missa.
- Não, nunca vou à missa.
- Mas isso é pecado.
- Se calhar. Mas eu não sou crente, sabe?
- Não é crente? Então o que está a fazer nesta igreja?
- A ver os vitrais!
- Mas só vai à igreja quem quer rezar.
- Ora essa! Não posso ir à igreja só ver os vitrais?
- Não!
- Bom, a senhora também não está a rezar.
- Mas vou começar agora! Vou rezar por si, para que veja a luz.
- E se eu não vir a luz?
- Foi porque Deus desistiu de si.
- Desistiu de mim? Mas isso é pecado!
(Silêncio. Agora é ele que fala primeiro.)
- Vou-me embora.
- Faz muito bem. E só volte se for para rezar.
- Está bem! Entretanto vou ali acender uma vela por si.
- Mas você não acredita!
- Em Deus não, mas tenho muita fé em si!
- E por que quer acender uma vela por mim?
- Para que você veja a luz.
- Mas eu já vi a luz, você é que não!
- Para mim, foi você que não viu. É tudo uma questão de fé!
(Despediram-se respeitosos. O senhor acendeu uma vela pela senhora e a senhora rezou pelo senhor. No final olharam um para o outro e depois para os vitrais da janela. Saíam da igreja um pouco mais iluminados do que antes. Graças aos vitrais.)