O novo presidente americano tomava posse, fazia um discurso importantíssimo e todos o ouviam, todos o seguiam, todos calavam. O mundo assistia redondo a este acontecimento e, no entanto, no primeiro andar de uma rua calmíssima de um bairro residencial de uma cidade europeia, uma mulher mantinha a televisão desligada, a rádio desligada, o computador desligado e lia concentrada, deliciada, conquistada, o último romance de valter hugo mãe. Como se nada mais houvesse no mundo senão aquelas páginas com as suas personagens esdrúxulas e vidas minúsculas. Um caso deveras estranho. O mundo parado para ver que rotação escolher e uma mulher deitada no sofá a ler um romance. Do valter hugo mãe.
Era, de facto, estranhíssimo, mas já se sabe que a realidade ultrapassa sobremaneira a fantasia. No final do livro a mulher ficou triste por haver um fim. Depois foi lavar os dentes e deitou-se.
O discurso do presidente havia de ter sido notável, mas não tão notável como o apocalipse dos trabalhadores. Na opinião daquela mulher, claro, que gostava muito mais do valter hugo mãe do que do Barack Obama. Francamente mais. Mil vezes mais.
Vá-se lá saber porquê*.
*O narrador desta história não percebe esta mulher, mas eu sim, percebo e concordo.