quinta-feira, 26 de junho de 2008

O espirro

O rapaz adolescente dobrou a esquina e espirrou.
Quase em simultâneo e devido à contracção do rosto, as quinze borbulhas que o adolescente trazia na testa explodiram.
Este espectáculo (o rapaz a espirrar e as borbulhas a explodirem) assemelhava-se a um fogo de artifício, não tanto pela diversidade de cores, mas pela conjugação de sons: um espirro aberto, festivo, prolongado e uma erupção que era afinal várias explosões carnavalescas.
No momento seguinte, a saliva, o muco e o pus caíam harmoniosamente aos pés do rapaz adolescente. O prazer que este sentia era quase orgásmico.
Depois limpou à camisola duas gotas de muco e continuou o seu caminho um pouco mais rápido do que antes, cheio de pressa para sair dali.
(Tinha uma alergia a pessoas adultas e, àquela hora, o bairro devia estar cheio delas.)