Naquela noite o rapaz achou que amava. Estava escuro e havia neve.
Na mão veio pousar um pequeno floco e ele emocionou-se. Depois, num segundo, a neve morreu água e o rapaz pensou: "Este amor é impossível". Por causa disso, amou ainda mais.
Os flocos de neve eram iguais às bolas de sabão: frágeis, intocáveis, sublimes.
Os flocos caíam.
As bolas subiam.
O rapaz apercebeu-se então que o mundo estava ao contrário e soprou violento para a noite. Os flocos de neve ficaram então suspensos no ar e logo mudaram de trajectória.
(A neve já não cai; sobe.)
(A neve já não cai; sobe.)
O rapaz fica a vê-la subir.
Os flocos de neve flutuam depois sobre as casas e tomam a forma das nuvens, confundindo a própria noite. É tão branca a neve, que os pássaros acordam para o dia. Tão bela, tão irrepreensivelmente bela, que o corpo do rapaz sente uma dor só de a ver.
O rapaz ordenou: "Cai!" e ela caiu das nuvens para morrer nas suas mãos. Ele emociona-se. Diz: "Amo-te!" pensando que o amor é a contemplação do Belo.
O rapaz bebe então a água da neve: são agora um só corpo.
O rapaz bebe então a água da neve: são agora um só corpo.
Tudo isto se passa no interior de um pisa-papéis, atrás de uma redoma de vidro. Daí o movimento aleatório da neve. E o mundo ao contrário.
Tudo ali é ficção.
À excepção do Belo.
E da dor.
(Só aquele amor é real.)