Tem barriga em forma de ovo e sente com a mão o peso do fruto. Quase sorri. Os outros passageiros olham-na atentos, assustados com o fruto desconhecido.
A mulher grávida é, aos olhos dos passageiros, um bicho de duas cabeças.
O homem atrás do ventre vem a dormir. Corpo dobrado sobre si mesmo e barriga inchada, a mão esquerda muito aberta dedilhando a placenta.
Entre o fruto e o mundo, uma parede de sangue.
Entre mulher e mãe, o ovo. Entre mãe e filho, um cordão.
E nós, entre estações, à espera que os outros nasçam.
O metro abre-se como um ovo e nós, os de cá, a saltar para o mundo.
Entre o princípio e o fim, tudo o resto.
Entre o fruto e o mundo, uma parede de sangue.
Entre mulher e mãe, o ovo. Entre mãe e filho, um cordão.
E nós, entre estações, à espera que os outros nasçam.
O metro abre-se como um ovo e nós, os de cá, a saltar para o mundo.
Entre o princípio e o fim, tudo o resto.
E nós, os da vida, no meio.