Imaginemos um homem mediano, de estatura média, meia-idade e gostos de classe quase baixa, muito preocupado em medir os outros e a vida. Em dias tristes esse homem dizia:
- Estou triste! - com a simplicidade de quem é triste.
E todos se compadeciam dele.
- Estou triste! - com a simplicidade de quem é triste.
E todos se compadeciam dele.
Um dia alguém disse sem pretensões:
- Uma pessoa feliz tem tanto de felicidade como de tristeza.
E ele foi para casa contar os seus dias tristes para saber os dias felizes. O homem admitiu depois:
- Estou triste!
E todos se compadeceram dele.
- Estou triste!
E todos se compadeceram dele.
Naquela noite foi ao cinema para que os outros vivessem por ele e, no final do filme, sentiu que essa vida (a dos outros) era mais interessante do que a sua.
(Uma conclusão algo ingénua para um homem de meia-idade, admitamos.)
O homem triste decidiu então viver a vida de uma outra pessoa (que não a sua) e entrou num bar para escolher o seu actor. Rapidamente sentenciou que nenhuma pessoa do bar era decididamente interessante. Achou, em primeiro lugar, que o problema era seu, que tinha falta de interesse pela vida em geral, mas depois resolveu culpar o mundo. Disse:
- Ninguém é decididamente interessante.
E pediu a conta. Aquele homem mediano, de estatura média, meia-idade e gostos de classe quase baixa, muito preocupado em medir os outros e a vida, decidiu então mudar de ângulo, que é como quem diz: mudar de vida. Anunciou para o copo de vinho:
E pediu a conta. Aquele homem mediano, de estatura média, meia-idade e gostos de classe quase baixa, muito preocupado em medir os outros e a vida, decidiu então mudar de ângulo, que é como quem diz: mudar de vida. Anunciou para o copo de vinho:
- A partir de agora, sou realizador de cinema - isto por lhe faltar o talento dramático dos actores, porque o homem triste prefereria encarnar personagens a racionalizá-las.
Pagou a bebida e perguntou ao rapaz que o servia:
- Onde posso comprar uma máquina de filmar?
O outro riu-se da ignorância do homem triste: um rapaz patético, de aparelho nos dentes, presumivelmente feliz.
- A estas horas em lado nenhum. Pelo menos, não na Bélgica.
O homem triste decidiu então começar por mudar de país. E foi para casa.
Pagou a bebida e perguntou ao rapaz que o servia:
- Onde posso comprar uma máquina de filmar?
O outro riu-se da ignorância do homem triste: um rapaz patético, de aparelho nos dentes, presumivelmente feliz.
- A estas horas em lado nenhum. Pelo menos, não na Bélgica.
O homem triste decidiu então começar por mudar de país. E foi para casa.
No silêncio do quarto assaltou-o uma reflexão sobre a vida. E a propósito disso deu um título ao filme por realizar:
No country for sad men.
Não era um título original, é evidente. Mas era mediano e isso bastava-lhe. O homem triste levantou-se do sofá e partiu a meio da noite.
Claro que o homem triste deu a volta ao mundo e não encontrou o lugar que procurava. Concluiu anos mais tarde, quando a sua estatura média se dobrava para a frente com o peso dos anos, que o mundo inteiro era mais triste do que ele. Pensou:
Não era um título original, é evidente. Mas era mediano e isso bastava-lhe. O homem triste levantou-se do sofá e partiu a meio da noite.
Claro que o homem triste deu a volta ao mundo e não encontrou o lugar que procurava. Concluiu anos mais tarde, quando a sua estatura média se dobrava para a frente com o peso dos anos, que o mundo inteiro era mais triste do que ele. Pensou:
- Sou um pouco menos triste do que antes.
Isso animava-o imenso.
Isso animava-o imenso.
Era um velho feliz.