Hoje é dia mundial do livro. Coitados dos livros. Há meses que não leio a ponta de um corno. Vou lendo às mijinhas, fico sempre a meio de uma frase. Volto atrás. Releio o parágrafo, a página anterior. Não me lembro de absolutamente nada. Adormeço. As livrarias do bairro estão todas fechadas. Têm folhas à porta a dizer que podemos encomendar livros por email. Ah, boa. Bela ideia. Não encomendei nenhum. O melhor que fiz foi encomendar livros diretamente a algumas editoras. Chegam pacotes às pinguinhas. Se morrerem as editoras independentes, estamos feitos. Ouviram? Acaba-se esta coisa dos livros e da literatura. Se fecharem as livrarias do bairro, corto os pulsos ou então faço uma tatuagem a dizer: mea culpa. Porque a culpa será minha. A culpa será nossa. Ouviram?
Estes tempos não são para livros, né?
Ou são?
Pois tenho a dizer que hoje, dia mundial do livro, chegou por correio um livro lindo, rosa choque. Por favor, agarrem-no. Encomendem-no. Chama-se Para que serve?, é do José Maria Vieira Mendes e da Madalena Matoso, e não serve para nada. Nadica de nada. Não ensina a fazer máscaras de tecido, não dá conselhos amigos, não conta uma história sequer. E é um livro lindo e tão necessário em tempos de confinamento social, económico e cultural. Que bem me fizeram estas perguntas fluorescentes. E que pena não podermos ver as estantes das livrarias repletas de exemplares deste livro. Todos a perguntar em rosa choque: Para que serve? Para que serve? Para que serve?
No dia mundial do livro ocorre perguntar: Para que serve um livro?
Para nada, claro.
E para absolutamente tudo.