Hoje, enquanto, ajoelhada em frente à retrete, lavava o tampo da sanita com o pano rosa embebido em spray lava-tudo, fui surpreendida pela beleza deste extraordinário trono de porcelana.
Abri o tampo de plástico e considerei a potencialidade estética do objeto branco com dobradiças delicadas. Constatei que o assento, com o seu formato oval e o amplo buraco no meio, constituía uma elegante moldura. Na minha imaginação, questionei-me sobre quantos artistas teriam já usado tampos de sanita para expor as suas obras. Certamente dezenas, possivelmente centenas.
Debrucei-me então na sanita e apliquei wc pato no tanque. Enquanto observava a queda do produto pela sanita abaixo, projetei no meu espírito uma exposição interativa para toda a família que incluiria um percurso livre por várias salas envolvendo a abertura de tampos de sanita. O conteúdo atrás desses tampos teria de ser, claro está, invulgar e desafiador. Haveria tampos de sanita espalhados pelo chão e pendurados nas paredes. Alguns tampos esconderiam objetos, outros mostrariam túneis escuros com passagem para outras salas, outros emitiriam sons, outros exibiriam apenas um buraco na parede, possibilitando a observação de outros visitantes a circular na sala ao lado, saltitando de sanita em sanita.
Abri o tampo de plástico e considerei a potencialidade estética do objeto branco com dobradiças delicadas. Constatei que o assento, com o seu formato oval e o amplo buraco no meio, constituía uma elegante moldura. Na minha imaginação, questionei-me sobre quantos artistas teriam já usado tampos de sanita para expor as suas obras. Certamente dezenas, possivelmente centenas.
The toilet, John Bratby, 1955 |
Debrucei-me então na sanita e apliquei wc pato no tanque. Enquanto observava a queda do produto pela sanita abaixo, projetei no meu espírito uma exposição interativa para toda a família que incluiria um percurso livre por várias salas envolvendo a abertura de tampos de sanita. O conteúdo atrás desses tampos teria de ser, claro está, invulgar e desafiador. Haveria tampos de sanita espalhados pelo chão e pendurados nas paredes. Alguns tampos esconderiam objetos, outros mostrariam túneis escuros com passagem para outras salas, outros emitiriam sons, outros exibiriam apenas um buraco na parede, possibilitando a observação de outros visitantes a circular na sala ao lado, saltitando de sanita em sanita.
Contemplei a retrete, satisfeita com a minha ideia.
De seguida substituí o disco de gel no rebordo da sanita e pensei nesse grupo de visitantes a abrir e a fechar tampos, a mergulharem nos buracos, a assustarem-se porventura com outros visitantes que estariam à espreita atrás de uma das molduras. Cucu!, diriam os mais atrevidos. Alguns talvez dessem início a uma conversa. O tampo seria neste caso uma porta ou uma janela.
De seguida substituí o disco de gel no rebordo da sanita e pensei nesse grupo de visitantes a abrir e a fechar tampos, a mergulharem nos buracos, a assustarem-se porventura com outros visitantes que estariam à espreita atrás de uma das molduras. Cucu!, diriam os mais atrevidos. Alguns talvez dessem início a uma conversa. O tampo seria neste caso uma porta ou uma janela.
Quando peguei no piaçaba, apercebi-me finalmente de que nenhum corpo adulto está em condições de atravessar um tampo de sanita. Por essa razão não costumamos cair na retrete. Corrigi assim a minha ideia original e imaginei um itinerário de sanitas dirigido exclusivamente a crianças de dois ou três anos. Afinal não seria bem uma exposição, mas sim um parque infantil de sanitas e abarcaria igualmente vários sistemas de autoclismos que fariam descargas de gomas e chocolates. Voltei a imaginar esse espaço e vi na minha mente um monte de crianças felizes a gritarem “chichi, cocó” e a abrirem os tampos de sanita com enorme expectativa e emoção.
Por fim, fechei o tampo da minha sanita com brandura e intenção, congratulei-me com o brilho e a brancura da retrete, e decidi que aquela tarefa doméstica tinha chegado ao fim.