Todos os anos vou animar para o Anima, o festival bruxelense (e bruxuleante) de filmes de animação.
Ontem descobri Signe Baumane, artista letã a viver em Nova Iorque que veio a Bruxelas apresentar o seu novo filme intitulado "Rocks in my Pockets", título sugestivo para uma história sobre três mulheres cheias de pedras nos bolsos numa Letónia em pleno desequilíbrio.
Aos 50 anos, Signe Baumane apareceu no palco de corpo são e mente vã numa versão dupla, de saia comprida por cima de um par de calças. Durante a conversa com o público, assumiu que passa a vida a pensar em sexo e também em suicídio. Logo a seguir esclareceu-nos que, felizmente para ela, pensa mais vezes em sexo do que em suicídio, o que lhe permite não só ter mais sexo, mas também sobreviver. O seu novo filme fala sobre isto e muito mais.
O trailer lança a primeira pedra, que aqui reproduzo em versão portuguesa: Neste mundo louco, de guerra, divórvio, política, sexo, negócios, educação, dinheiro, segredos, casamento, poder, maternidade e violência, como manter a sanidade? A resposta é difícil e também pouco saudável.
É Signe Baumane que dá vida - e também voz - a este filme autobiográfico sobre a sua avó, a sua mãe e também a própria Signe, numa história contada, narrada e ilustrada na primeira pessoa.
No final do filme, Signe Baumane atirou-nos pedras de papel, ofereceu ilustrações originais a uns quantos felizardos e falou-nos de tudo um pouco: da reação negativa de alguns familiares ao filme, dos ensaios intensivos para dar voz ao texto, do processo criativo.
Disse-nos que não faz filmes para si própria, mas sim para o público. Para nos entreter, para lançar perguntas (e também algumas pedras).
Deste encontro ressalta a ideia inquietante de que, apesar de tudo, há alguma esperança no pensamento suicida.
Nem que seja para ter a opção de escolha. E sobreviver.