Da escrita.
Da escrita?!
Sim, da escrita.
Um texto é um texto. Acaba no fundo da página, com um ponto final ou um ponto de exclamação ou de interrogação.
Por vezes adormeço na ponta dos dedos. Outras vezes, insisto na caneta e troco de cenário, de posição, de cadeira. Mudo de página ou então de letra.
Agora vou fazer letras compridas.
Nos momentos de parvoeira, seguro a caneta de formas esquisitas.
Agora sem o polegar, agora sem o indicador. Invariavelmente, espeto-me contra a página.
Também escrevo de maneiras invulgares.
Que maneiras invulgares?
Sei lá. De trás para a frente. De baixo para cima. Da direita para a esquerda. Aos círculos, aos ziguezagues. Brinco à poesia concreta. Por exemplo: concreta, Creta, careta, coreta. Brinco à caligrafia. Vou fazer uma bolinha no "i".
Em ocasiões espicaçantes, até escrevo de pé. Enquanto espero por alguém ou por alguma coisa. Pouso o caderno na palma da mão esquerda e dou-lhe com a direita. No meio da rua, ao frio e ao vento.
Quando o caderno é magro, é como se escrevesse na mão. As palavras ganham consistência. Fazem-me cócegas e eu rio-me. Fujo delas e, logo a seguir, encoraja-as. Trago as palavras na palma da mão. É divertido.
Gostava de escrever de pé mais vezes.
Felizmente, o IKEA já anda a vender umas mesas ajustáveis há uns meses.
A bem da coluna vertebral e da escrita vertical.
Vou escrever com os pés.