O meu e o dos outros.
E também aqueles corações rechonchudos que pululam o Dia dos Namorados. Bolachas e chocolates em forma de coração, meias e cuecas repletas de corações palpitantes, velas, canecas, livros vibrando de amor. Corações atravessados por uma seta ou então partidos ao meio para os mais desiludidos.
Atenção: não tenho nada contra o São Valentim. Até acho piada à história do santo e regozijo-me com a celebração do amor.
Eu passo a vida a celebrar o amor.
Ainda assim, vivo muito melhor sem o Dia dos Namorados.
O meu coração deve ter endurecido porque, a bem dizer, não percebo muito bem a sobrevalorização deste órgão muscular.
Por que razão será ele o símbolo por excelência das emoções e, em particular, do amor e da paixão?
É certo que o coração conhece razões que a razão desconhece, mas eu não me emociono no coração, acho. Aquele bater misterioso e previsível aborrece-me de morte (e de vida, no caso).
Eu cá sinto as emoções pelo corpo todo. Regra geral, comovo-me no fígado ou então na vesícula, fico com náuseas. As emoções mais bicudas picam-me nos pulmões. Falta-me logo o ar e dá-me a fraqueza por dentro.
Nos dias que antecedem um momento fulcral, emociono-me nos joelhos, tremem-se-me as pernas. A comoção dá-me cabo das articulações e não propriamente dos ventrículos.
A verdade é que não sinto nada no coração além do bate-bate, bate-bate, bate-bate.
Apesar disso, sou emotiva. E desmesuradamente lamechas.
A paixão, em especial, dá-me a volta às entranhas. Ou seja, faço das tripas coração. Levo chibatadas no intestino delgado, valentes socos no estômago. Ou então mais abaixo, diretamente no útero.
O coração para mim é a vida.
Nos videojogos, por exemplo, é mesmo assim: quantos mais corações, mais vidas.
Paradoxalmente, o coração para mim também simboliza a morte.
Deve ser por causa da rainha de copas da Alice no País das Maravilhas ("Cortem-lhe a cabeça!"). E agora também me lembrei do mais inesquecível vilão do Indiana Jones, que arrancava corações com a mão. Para os que têm miocárdios mais resistentes, a cena está em linha.
Apesar do acima exposto, apraz-me que um dos símbolos de Portugal seja o coração de Viana, por ser um coração torto que nunca mais se endireita. Além disso, traz umas cornucópias de filigrana em cima que, segundo me contaram, simbolizam o fogo.
É um coração torcido e fogoso.
Eu tenho uns brincos desses. E um pêndulo também.
Não que eu seja uma portuguesa amorosa.
Sou é bastante torcida.
E também fogosa.