Beijinhos, abraços, apertos de mão.
Esta coisa de o corpo falar pelos cotovelos é mesmo assim e o meu corpo gosta. É tagarela.
Uma festinha ou um estalo na cara. Uma pessoa percebe logo.
Ora se está de trombas, ora se faz beicinho, agora pisca o olho, e logo a seguir revira. Um esgar, um aceno, um bater de palmas.
As pessoas falam sem falar. Voltam as costas, dão a mão, abanam a cabeça. E há gestos para todos os gostos. Os silenciosos e os que fazem barulho. Os previsíveis e os inovadores. Os íntimos e os afastados. Um polegar para cima e outro para baixo, um sobrolho a franzir, o dedo médio a levantar, ups!
O corpo também dá pontapés na gramática.
De todos os gestos e contactos físicos formais, semiformais e informais, ainda estou para compreender o aperto no ombro.
É preciso imaginar este contacto inesperado: uma mãozinha semiformal a comprimir a nossa pele.
E não é uma mão conhecida. É uma mão estrangeira: cinco dedinhos misteriosos e, possivelmente, sapudos.
Nunca é um amigo que nos aperta o ombro. É sempre um conhecido disfarçado de outra coisa. (É Carnaval, ninguém leva a mal.)
Dá-me logo vontade de relinchar e distribuir coices, até porque hoje vim mascarada de égua.
O aperto de ombro vem disfarçado de sensibilidade e bom senso. Olha, estou aqui, diz a mãozinha misteriosa. Quero ser teu amigo, insiste ela. Cinco dedinhos a comprimir a minha pele, uma tarântula de estimação.
Quando me apertam o ombro, apetece-me sair a galope e fazer um cocó assustado.
Tenho um temperamento de égua indomável.
E sou dose para cavalo.