quinta-feira, 20 de março de 2014

A boneca essencial

A primavera chegou a Bruxelas e, com ela, a Cimeira dos Chefes de Estado e de Governo. E manifestações. À volta da rotunda, polícias e barreiras e também camionetas com repórteres e jornalistas. Ninguém passa em frente ao Conselho hoje, nem sequer os autocarros; vão dar uma granda volta. Já tive ataques de fúria por causa disso. Ia atrasada para um voo.
Os meus problemas são ridículos quando comparados com os problemas do mundo.
As transportadores aéreas não querem voar para a Venezuela. Israel bombardeou a Síria. Os Estados Unidos aprovaram mais sanções contra a Rússia.
Os líderes da UE chegam em carros pretos e compridos. Hoje não os vi, mas às vezes vejo-os. Os carros, não os líderes. Os líderes vão escondidos atrás dos vidros fumados.
Michelle Obama está em visita oficial na China.
Na ordem do dia da cimeira europeia: emprego, união bancária, Ucrânia, política energética, relações da UE com África.
Nas últimas 48 horas, mais de dois mil migrantes africanos foram resgatados na costa italiana.
Houve um atentado na Líbia e outro no Afeganistão.
As grandes questões do mundo estão dentro umas das outras. As grandes questões do mundo parecem Matryoshkas.
As palavras "cimeira" e "Crimeia" escrevem-se com as mesmas letras, que estranho.
Ninguém conhece ao certo os objetivos da Rússia a longo prazo.
A única boneca russa que não é oca por dentro é a mais pequena de todas. É a boneca essencial.
Os líderes da UE já devem ter tirado uma foto de família, todos alinhadinhos. Parecem soldadinhos de chumbo. O Presidente do Conselho tem cara de rato.
A UE vai aprovar mais sanções contra a Rússia.
O rato roeu a rolha da garrafa do Rei da Rússia.
Se calhar a guerra já começou e ainda não demos por ela.
Está sol na rua. Bendita primavera. Tenho mesmo de comprar uns óculos escuros.