A Joan não apareceu
vestida de polícia. Vinha com um par de calças cintilantes e um casaquinho
muito composto, mas meio amarrotado. Disse que tinha medo de passar a ferro e que
talvez as pessoas a respeitassem mais se aparecesse cheia de rugas. A Joan tem um
tique qualquer na língua, lambe-se um bocado. Fica com um certo ar de cat
woman. A Joan tem 43 anos e usa um risco ao meio com uns ganchos infantis de um
lado e do outro. Quando canta, parece muito mais velha, não por causa das
rugas, mas por causa da voz que entra dentro da pele como uma raiz.
A Joan andou à procura da magia e encontrou-a.
No final do concerto, comprei
o álbum novo. Chama-se Classic, é dourado e preto. Tem um autocolante em cima a
dizer não sei quê. Depois fui ter com a Joan, que estava mesmo ali, do lado de
lá do balcão. Ela disse Hello! Eu disse aquelas coisas de sempre, que o concerto isto e que o álbum aquilo. A Joan pegou no CD e disse que não gostava nada do autocolante em cima do álbum, mas
que era muito difícil tirá-lo. Ai é? É. Vou tentar. Fiquei ali ao pé da Joan a
tirar o autocolante enquanto ela dava outros autógrafos. As minhas unhas abrutalhadas
não me deixaram mal: o autocolante morreu e a Joan ficou feliz. Até disse I
love you e foi mesmo uma coisa sentida, porque eu lancei-lhe um truque de magia, zás! A Joan perguntou-me
se queria que escrevesse alguma coisa especial no autógrafo. Eu disse que estava só à procura
da magia. A Joan abriu muito os olhos e escreveu a dourado: Ana, For your magic! Depois fez um
coraçãozinho e assinou por baixo.
Fiquei logo a magicar.
Sou mega fã.