Até escreveu um livro a fingir sobre isso. E não é um homem inventado, é um homem a sério. Vive num convento fantasiado algures em França, num grande regabofe utópico com milhares de livros inimagináveis.
Vi-o uma vez em Bruxelas, cidade fictícia de nuvens falsas, e gostei de o ouvir. Até comprei um livro irreal do senhor. Infelizmente, não cheguei a lê-lo. Distraí-me.
Às vezes acontece-me.
Passo os dias em lugares imaginários. No monte dos vendavais. Na minha varanda idealizada. A beber um café ilusionista em casa do Sherlock.
Quando saio da minha cabeça inventiva, fico logo com sono, com frio e com fome, porque as coisas a sério cansam-me. Os diplomatas que aparentam diplomacia cansam-me e os deputados tagarelas também e as cimeiras criativas, os líderes liderados e os lobistas avatares, o ilusionismo fiscal, o fecundo futebol, a NSA, o Facebook, os likes, as selfies, as negociações quiméricas, os dados pessoais, as infrações, a fraude, os incumprimentos, as violações, as guerras concebidas, o fabuloso Big Brother, todo este admirável mundo a sério que é tão a fingir, tão inconcebível, tão efabulado, que qualquer dia damos mesmo um grande passo de humanidade ficcional e vamos parar a Marte.
Já estou cheia de sono e frio e fome.
Antes viver no meu Kindle surpresa a engendrar outra coisa qualquer.
Hoje queimei a língua. Distraí-me.
Estava na Catedral com o Vargas Llosa e escorreguei nas palavras.
Parece uma dor inventada, mas não é. É uma dor a sério.