Acabei de ler o segundo livro da banda desenhada Couleur de Peau: Miel.
Ainda não percebi se gosto desta trilogia. Às vezes acho que não, outras vezes
acho que sim, outras ainda mais ou menos. Isto acontece-me com frequência: não perceber se gosto de uma
camisola que estou a usar, de um livro que estou a ler, de uma canção que estou
a ouvir, de um sabor novo, de uma cor.
Sou um bocado pim-pam-pum. Leio isto e aquilo, hoje apetece-me, amanhã logo se vê.
E não sou de colecionar coleções e ler os livros por ordem, que grande maçada. Mas esta novela
autobiográfica de Jung, autor sul-coreano que faz bande dessinée à belga, começa
com um grande empurrão e eu caí dentro de uma lixeira em Seul, onde um polícia encontrou
um menino de cinco anos. E pronto, uma pessoa põe-se logo a ler.
Para salvar a criança.
E salva mesmo. A páginas tantas a criança é adotada por uma família
numerosa algures na Bélgica, por isso continuei. O segundo livro fala disso
mesmo, de ser igual e diferente, de crescer num país chamado Bélgica e de cortar
a identidade pela raiz. "Je savais bien que je n'étais pas japonais. Mais quand je me regardais dans un
miroir, je ne me sentais pas belge non plus ! Je voyais un coréen. C'était inéluctable."
Ando preocupada com este moço fora do sítio porque, do alto da sua adolescência,
decidiu nunca mais dizer palavra à hora de jantar. Come e cala.
É
um bocado desconcertante.
Hoje vou passar na livraria e pedir o terceiro volume do Couleur de Peau. O
senhor da livraria não vai perceber e eu vou repetir: Couleur de Peau. Se o senhor
não perceber, vou dizer a palavra-chave: Jung.
Às vezes não gosto de crescer em Bruxelas. Outras vezes sim, gosto muito.
É lixado dizer Couleur de Peau.