Tenho uma certa obsessão por canetas. Passo a vida a comprar canetas novas, porque também passo a vida a perdê-las. Prefiro canetas baratuxas, claro, até porque não as trato com grande dignidade, e compro sempre uma mão cheia de cada vez. Quando gosto de qualquer coisa, quero logo uma mão cheia, é sempre assim. Hoje em dia, já sei de que canetas gosto, mas antes andava para aí perdida nos corredores do consumismo e o caminho da descoberta foi longo e íngreme.
Até à data, experimentei de tudo um pouco, incluindo as famosas canetas de tinta permanente, que acabavam (permanentemente) por me sujar os dedos. Além disso, a tinta passava para a folha seguinte, era uma atrapalhação. Também era necessário andar com os tubinhos atrás, tirar um, pôr outro, mexer um pouco para a tinta chegar ao bico. Concluí que era demasiada areia para a minha carruagem.
Até à data, experimentei de tudo um pouco, incluindo as famosas canetas de tinta permanente, que acabavam (permanentemente) por me sujar os dedos. Além disso, a tinta passava para a folha seguinte, era uma atrapalhação. Também era necessário andar com os tubinhos atrás, tirar um, pôr outro, mexer um pouco para a tinta chegar ao bico. Concluí que era demasiada areia para a minha carruagem.
Uma vez comprei uma caneta prateada XPTO, mas não era fácil comunicar com ela. A caneta XPTO tratava-me com frieza, não havia intimidade entre nós. Era uma caneta demasiado sofisticada para mim, por isso, quando a perdi, senti um certo alívio.
Certo dia, comprei uma caneta ergonómica com dois buracos específicos: um para o dedo indicador e outro para o polegar. Era uma Stabilo Easy Original, um nível mais avançado q.b. Pensei: “Uau, a ergonomia!”, até porque a caneta tinha assim uma espécie de cauda a afunilar para o lado e eu quis experimentar. Trinquei e meti-a na cesta.
A primeira desilusão foi a tampa. Sem tampa, não há caneta, claro, e é preciso guardar a tampa num lado qualquer enquanto usamos o instrumento. Sou um bocado quadrada, mas assim de repente estou em crer que não há nada melhor do que enfiar a tampa no cocuruto da caneta. Parece-me suficientemente prático e ergonómico. Ora, para meu grande espanto, não consegui enfiar a tampa no cocuruto da minha Stabilo Easy Original. Pensei: Very original! A tampa caía o tempo todo, parecia um chapéu demasiado pequeno ou demasiado grande. Ainda assim, usei a caneta durante uns tempos, mas depois percebi que de ergonómico a caneta tinha muito pouco, porque não podia mudá-la de posição. Não dava para rodar a caneta nos dedos, por exemplo, exatamente por causa dos dois buraquinhos. E eu gosto de rodar a caneta nos dedos, de mudar de posição. Cansei e arrumei-a num canto.
Pouco depois, rendi-me às evidências: as minhas canetas de eleição são mesmo as canetas de gel 0.5 mm. São fáceis de manusear, não fazem muito estardalhaço e a tinta chega-lhes logo ao nariz. A coleção da Muji é bem simpática, especialmente por causa das cores originais, mas falta-lhes o apoio de borracha para os dedos. Agora, no site, descobri as promissoras smooth writing gel ink pens, vou encomendar.
Por enquanto, dou-me por satisfeita com as Lyreco Gel Premium 0.5 mm que fui desencantar lá no escritório. Primeiro porque gosto do nome Lyreco e depois porque são transparentes e uma pessoa vê logo a quantas anda: se tem muita ou pouca tinta, se a caneta aguenta uma semana ou só um dia. A outra vantagem é o tal apoio de borracha para os dedos, que é uma grande ajuda para as minhas mãos de alicate, já que tenho esta tendência de mamífero bruto para apertar o pescoço às canetas.
De facto, deve ser um grande sufoco trabalhar como caneta para mim. Faço tanta força contra o papel, que a certa altura as moças perdem mesmo o fôlego e morrem. Em alguns casos, especialmente as Stabilo hexagonais 0.4, engolem a sua própria língua. A isto se chama não passar da letra morta.
Quando isto acontece, encolho os ombros e passo para a caneta seguinte.
Antes, na época da escola, tinha vergonha desta minha violência a escrever. Quando estávamos a fazer um teste, a minha caneta gemia sempre mais alto do que as outras e o meu estojo tremia, o enunciado tremia, a própria escrivaninha tremia. O ato da escrita era uma turbulência constante e todos os objetos tinham medo das minhas mãos.
Hoje em dia já não tenho vergonha nenhuma de ser o bisonte da escrita à mão. Na verdade, até gosto. Imagino que tenho assim uns chifres virados para a frente e uma bossa na coluna. Com esta ideia na cabeça, até escrevo melhor. Sinto-me mais forte, mais obstinada. E gosto de trazer pela mão uma caneta robusta, que esteja à altura do desafio e dê luta aos meus cascos.
A Lyreco Gel Premium 0.5 mm ainda não morreu.
É uma caneta e pêras.