A propósito de tudo isto, descobri aqui há uns dias mais um desenvolvimento prodigioso da era da técnica:
uma caneta vibratória.
O tema interessou-me, porque no geral gosto de vibrar com as novidades. Fui ver.
Era isto:
Imagem e artigo aqui (em inglês).
O conceito é mais ou menos simples, embora a solução técnica seja para mim um mistério. Trata-se basicamente de uma varinha de condão da escrita, que vibra quando deteta erros ortográficos.
Bem, não é bem uma varinha de condão, porque só deteta erros, não realiza os nossos desejos mais desejados. Mas se pensarmos bem, detetar erros ortográficos já é um dos três desejos mais desejados de muita gente, ou não? Uma pessoa está muito bem a escrever um recado para a mãe a dizer: «A mousse estava óptima» e, quando vai a desenhar o «p», a caneta estremece irritadinha. Fica talvez por realizar o desejo de corrigir o erro, mas a dúvida já é meio caminho andado.
Por mim, nada contra, eles que tremam para aí. Há de certeza quem goste de levar reguadas vibratórias. E as reguadas vibratórias, além de não aleijarem ninguém, devem ser inspiradoras. Além disso, percebo a utilidade do instrumento para pessoas imaturas, iletradas, inseguras.
No entanto, fico com pena dos erros ortográficos. Por este andar, vão ser coisa do passado, mesmo entre os alunos da primária. E eu gosto bastante de erros ortográficos. E também de gralhas, falhas, fífias, fendas. É como jogar às escondidas com o texto. Quando apanho um erro, grito contente: Tcharam, apanhado! E muitas vezes acontece-me gostar mais do erro do que da palavra aperaltada.
Por exemplo, enquanto estava à escrever este texto à mão, em vez de «erros ortográficos», escrevi «eros ortográficos». Exclamei: «Ai, que giro!», porque realmente eros é um erro amoroso. Fiquei a pensar no deus grego e cheguei rapidamente ao amor, daí ter apelidado estas minhas «postas» de «Amor Ortográfico». Pronto, não é assim uma expressão tão inovadora como «caneta vibratória», mas é um título válido e tem a particularidade de homenagear o erro.
Eu saúdo os erros. Fazem-me sentir mais carne e osso, não sei.
O Neil Gaiman, vibratório autor British, diz que a ideia de chamar a sua famosa personagem Coraline surgiu precisamente quando se enganou a escrever o nome Caroline. Para os que falam estrangeiro, vale a pena ouvir o seu discurso, que é também uma varinha de condão.
De resto, reconheço que uma caneta vibratória pode ajudar os mais pequenos nesta difícil e interminável tarefa de aprender a escrever. E, mais importante do que isso, vai com certeza gerar boas vibrações ortográficas no intelecto dos mais afetados.
De resto, reconheço que uma caneta vibratória pode ajudar os mais pequenos nesta difícil e interminável tarefa de aprender a escrever. E, mais importante do que isso, vai com certeza gerar boas vibrações ortográficas no intelecto dos mais afetados.