Era uma vez uma pessoa normal. Os outros (os menos normais) classificavam-na assim.
A pessoa normal não era querida pelos outros nem tão pouco odiada. Digamos que era alguém com quem se coexistia sem dificuldade. Isto trazia uma sensação de normalidade a todos os que conheciam a pessoa normal.
Tinha aliás uma voz agradável (normal para os ouvidos), nem muito aguda nem muito grave e o tom era correcto: nem alto nem baixo. Uma pessoa audível.
A pessoa normal talvez não fosse muito inteligente nem especialmente perspicaz nem surpreendente na resposta nem pertinente nas suas intervenções. Mas participava na vida com os outros, tinha uma opinião normal sobre o mundo, exercia o direito de voto. Não era uma pessoa estúpida, era aliás inovadora no trato com as pessoas (tinha sempre uma expressão divertida para finalizar as conversas) e falava de assuntos quotidianos como o preço do combustível, as alterações climáticas, as eleições americanas e a agricultura biológica. Tinha até alguns interesses específicos: música country, ténis e romances policiais. Gostava também de nadar.
Era também e sobretudo uma pessoa simpática, cumprimentava os colegas de sorriso estendido, era prestável para com os superiores, bebia sumo de laranja ao almoço e quase não jantava. Via televisão. Não em demasia. Quando fazia viagens mais longas em transportes públicos comprava o jornal.
A pessoa normal não se achava merecedora de nada. Não por modéstia nem por medo dos outros. Realmente não esperava prémios nem recompensas da vida, ficava verdadeiramente surpreendida quando recebia um convite ou um elogio ou uma prenda de aniversário. Porque, no fundo, achava que não fizera nada para ser acarinhada.
Tendo isto em conta, a pessoa normal muito menos esperaria que alguém lhe escrevesse fosse o que fosse. Não costumava receber postais de amigos quando estes iam para fora, nunca recebera uma carta de amor e também nunca tinha escrito nenhum tipo de redacção além de relatórios para a faculdade e actas de reuniões.
A pessoa normal não se achava merecedora de nada. Não por modéstia nem por medo dos outros. Realmente não esperava prémios nem recompensas da vida, ficava verdadeiramente surpreendida quando recebia um convite ou um elogio ou uma prenda de aniversário. Porque, no fundo, achava que não fizera nada para ser acarinhada.
Tendo isto em conta, a pessoa normal muito menos esperaria que alguém lhe escrevesse fosse o que fosse. Não costumava receber postais de amigos quando estes iam para fora, nunca recebera uma carta de amor e também nunca tinha escrito nenhum tipo de redacção além de relatórios para a faculdade e actas de reuniões.
Ora, a pessoa normal jamais esperaria que alguém escrevesse uma história sobre ela. Nem sequer uma "mini-história" como esta. Na sua modesta (e normal) opinião, não havia nada de extraordinário para dizer sobre a sua pessoa.
E, na verdade, tinha toda a razão.