A narradora deste texto caminha e passa por casas abandonadas.
Uma. Duas. Três. Quatro.
Casas que não são casas.
São cascas. São crostas.
Vestígios.
Ninguém mora ali.
Nem sequer um objeto.
Nem sequer um gato.
Nem sequer uma planta.
Têm janelas ocas. Paredes esgaravatadas.
São casas sem conteúdo.
Vazias. Desabitadas. Sozinhas.
Por vezes, vêm os guindastes.
Os guindastes e os homens de capacete.
Arrancam os telhados. Os vidros. As varandas.
De repente, uma lacuna.
Um buraco entre as casas.
Um pedaço de céu.
A narradora deste texto interrompe a marcha e o pensamento.
Observa a demolição das casas.
É um intervalo na sucessão dos dias. Um hiato. Um lapso.
Uma ferida aberta.