Da esquina do
corredor emerge um ser humano do sexo masculino que vem finalmente assentar a poeira cósmica dos dias. Leva as mãos atadas a uma pasta azul que ostenta as estrelinhas da
União Europeia, mas os meus olhos miópes e imaginativos não veem nada disso. Os meus olhos veem um homem profundo que traz ao peito um
céu estrelado. Um homem com um céu por dentro, que afinal não veio assentar poeira cósmica nenhuma. É um homem como outros, a resvalar nos corredores sem metafísica nem transcedência. Tem um metro e oitenta, mais coisa menos coisa, e o sexo masculino possivelmente entediado. Adivinho olhinhos igualmente míopes, sem grandes voos, já que passam os dias trancados
num edifício aos quadradinhos com vista para outro edifício aos quadradinhos,
ambos pertencentes à União Europeia.
Ora, isto permite-nos concluir que, a bloquear
a vista dos eurocratas, está precisamente o céu estrelado da
burocracia.